Tinha até pouco tempo atrás uma bronca com Denis Villeneuve, o diretor canadense de A Chegada. O motivo era a adaptação do livro de José Saramago, O Homem Duplicado, para a telona. Foi, a meu ver, uma espécie de contrabando que o cineasta cometeu, visto que a essência do livro foi ignorada para mostrar uma versão da questão do duplo em outro aspecto: o da infidelidade e adultério.
Não que o filme O Homem Duplicado (Enemy) seja ruim, muito pelo contrário, é uma ótima trama com uma atuação de tirar o chapéu para Jake Gyllenhal. Mas chato como sou fiquei com a impressão de que Villeneuve é um sacana.
Minha opinião não durou muito, foi atualizada com Sicario: Terra de Ninguém (Sicario), um filme sobre uma caçada ao narcotráfico mexicano e seus métodos extraoficiais.
Mas parece que é na ficção científica que Villeneuve parece ter se encontrado. Lançado no fim de 2016, A Chegada (Arrival) é a adaptação do conto História de Sua Vida, de Ted Chiang, e o filme mostra a aparição de doze naves batizadas de Conchas que aterrissaram em lugares aparentemente aleatórios ao redor do globo. Assim que o exército capta uma transmissão sonora fica claro que os extraterrestres desejam estabelecer contato e então entra em cena a Dra. Louise Banks (Amy Adams ), uma linguista renomada que já prestou serviço às forças armadas, que é chamada às pressas pelo general Forest Whitaker para a tarefa de decifrar o que querem dizer os visitantes que são chamados de heptápodes por terem sete membros.
Amy Adams é a protagonista cujo drama, além da tensão da urgência em descobrir quais as intenções dos visitantes, é complementado com flashes de sua vida familiar, muito confusos no início. O coadjuvante Ian Donnelly (Jeremy Renner) é um físico também renomado que está na equipe da linguista e ajuda no roteiro com ideias e frases que ajudam a compreender o plot no final de tudo.
O problema de A Chegada foi, a meu ver, que muitos pontos de contatos discutidos anteriormente, seja na literatura seja no cinema, são revisitados como se pioneiros do gênero. Entendo que para fins de um público maior vale todas as explicações ressaltadas, mas alguns momentos ficam cansativos e evidentes para aqueles que se lembram de Contatos Imediatos de Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind), Contato (Contact), e até mesmo do livro Os Próprios Deuses (The Gods Themselves), de Isaac Asimov.
A despeito dos detalhes técnicos e das complicações da tarefa, o ponto alto da trama é a divisão que os extraterrestres criaram, por terem aterrissado em lugares diferentes do mundo, algo a quebrar aquele velho clichê que eles só pousavam nos EUA, e grande agravante dos impasses que gera devido às diferenças culturais e políticas que a humanidade encara ao longo de sua existência.
O medo do desconhecido e as diferenças entre os humanos tornam a solução final emblemática, com o conceito da língua universal e o conceito de soma não zero como ótimas “armas” para a civilização.
Embora A Chegada esteja entre os indicados de melhor filme, duvido que leve a estatueta. Mas espero que Villeneuve tenha sorte semelhante nas próximas FC’s, pois já sabemos que ele dirigirá a sequência de Blade Runner e está em avançadas negociações para o remake de Duna.
Espero não voltar a desgostar desse cabra.
Ma’a salama