Quase Mortes (Coletânea de contos)

Meu novo livro saiu do forno.

Quase Mortes


Quase Mortes, é uma coletânea de contos, e foi publicada pela Opera Editorial.
Quase Mortes é uma miscelânea inundada com flerte ao fantástico, onírico, autobiográfico, surreal, provocativo, plausível.
Contém mortes, não mortes, ansiedade, amor, paranoia, humor, angústia, certezas, dúvidas, referências, metalinguagem, reflexões, manipulações, experimentalismo, marca contemporânea brasileira e também apelo global.

Você já pode adquirir o seu exemplar.
A pré-venda está em andamento e tem como brinde o meu primeiro livro publicado (Mil Lances de Fogo)
Basta acessar o site da editora no link abaixo:
https://operaeditorial.com.br/produto/quase-mortes/


Espero que tenham uma boa leitura!
Ma’a Salama!

Nostalgia VHS

Com a mudança de minha mãe para o interior tive que pegar coisas antigas que estavam em seu apartamento, renegadas ao zelo do museu jovial.
Muitas passaram pelo crivo do bom senso e foram para o lixo.
No entanto, houve um item que fiz questão de pegar e manter em minha casa: o videocassete.
Então, me deixei levar por um momento de reflexão para entender o porquê queria tanto um aparelho comprado nos anos 90.

Nostalgia VHS
Nostalgia VHS



O objeto nem mesmo funciona (tomada mastigada junto com a sala toda por uma cachorra).
Resgatei em memórias o evento que foi quando meu pai, um lancheiro simples, trouxe para casa o aparelho.
Foi o suprassumo do sucesso, me senti rico, afortunado por agora poder assistir filmes que não fossem os que somente passavam na TV.
Para testar o aparelho o seu Mohamédi (como 100% dos brasileiros o chamam) alugou uma fita numa locadora de posto.
Inocente criança eu era. Não sabia o que era um Trailer.
No início do filme fiquei chateado ao pensar que meu pai pegou um filme de romance ao ver uma cena de um casal na cama.
Corte de cena, um tremor. Corte de cena, um gigantesco disco voador sobre a cidade. Corte de cena, cidades sendo bombardeadas por extraterrestres.
Empolgado e confuso com a velocidade e desconexão das cenas entendi ao final que aquilo não passava de uma propaganda embutida. E que o verdadeiro filme se iniciaria depois.
Quando espiei a capa da fita fiquei emburrado novamente, porque pensei que o Coração Valente (Brave Heart) seria de fato algum romance. Feliz engano.
Os anos seguintes moldaram o meu comportamento em relação aos filmes.
Havia o problema econômico envolvido, claro, nem sempre meus pais permitiriam alugar uma fita, mas quando conseguia após insistência era uma felicidade sem fim.
Sessões Pipoca, chamava amigos, quase sempre me antecedia em uma análise solitária para poder vibrar com os outros.
E quando a locadora permitia ficar mais tempo com a fita? Era o caso em que se alugava na sexta a noite e só devolvia na segunda.
E quando dava desconto se devolvia já rebobinada? (Se for jovem demais pesquise pela imagem de uma fita VHS, note que o filme era uma película que para a exposição ao leitor era passada de um rolo a outro).
E quando descobri que vendiam fitas “virgens”. E que era possível gravar filmes da TV.
Nunca mais perdi uma sessão noturna. Ou perdia propositalmente aquele filme de terror para assistir a gravação programada no conforto da tarde iluminada (e calorenta de Jalão Tropical) no dia seguinte.
Esse lance de poder gravar filmes que passavam na TV foi uma sacada e tanto, pois criei um esquema que me possibilitou assistir a lançamentos antes mesmo de chegaram nas videolocadoras.
O detalhe era que entre a exibição no cinema e a disponibilidade dos filmes nas locadoras, algo entre 3 meses a 1 ano, a TV paga exibia os grandes blockbusters em canais como HBO, Cinemax e afins.
A criança aqui assistia às propagandas da DirecTV e anotava os lançamentos da HBO num papel, depois, ia até o orelhão do outro lado do quarteirão, ligava para o tio que mora na capital paulista, falava os nomes dos filmes para ele presentear o seu sobrinho (preferido? rs) e tudo muito rápido para que a ficha caísse devolvida no final. (Sim, jovem de hoje, era nesse naipe).
E cá estamos, quase trinta anos depois, e o videocassete em minha estante da sala.
Há eventos de retorno de comportamentos, hábitos e coleções nostálgicas às pencas.
E a psicologia explica esse funcionamento do ser humano.
A volta do vinil.
A volta de powershots para fotografar momentos.
A volta do VHS.
Toda essa nostalgia está presente em diversas tendências recentes.
Mas ainda não conseguia entender o porquê que quis tanto o videocassete que serviria apenas como peça decorativa.
Pois, veja bem, aqui entra uma questão importante, eu me dei muito bem com a evolução a seguir.
Os DVD’s foram aceitos por mim devido não somente pela qualidade, mas pelo fato de ter materiais extras que eram raros em fitas VHS.
Making ofs, entrevistas, easter eggs, e não precisava se preocupar em rebobinar.
Dez anos depois foi a vez dos serviços de streamings (vou omitir aqui toda uma vivência sólida no mundo dos torrents), que possibilitou o consumo a um outro patamar, mil vezes mais cômodo devido à disponibilidade quase que vitalícia dos filmes nas plataformas e cuja noção de posse foi remodelada.
Não posso reclamar das evoluções, pois elas tornaram acessíveis muitas obras que seriam mais caras se dependessem de uma locação de mídia analógica.
Essa parte social-econômica talvez nem seja a parte mais importante.
Há também a questão do testemunho dessas transformações.
Talvez, millenial que sou, e grande parte da geração Z, esteja tendo dificuldade em lidar com essa nostalgia, por se identificar como das últimas hordas humanas que tiveram contato, uso e noção de mídias analógicas, vendo tudo migrar para o digital, para a tal nuvem, para uma não posse da unidade, e aceitando somente serviços que podem facilmente caber no seu bolso (referindo ao aparelho celular).
Se o millenial será o novo boomer, não posso contradizer.
Se esse apego nostálgico é inócuo ou nocivo, vai depender do quanto ele afetará a nossa capacidade de entretenimento atual.
Perdão se o texto caiu para um “black mirror” com essa conclusão.
Mas afinal, acho que faz parte de todo sentimento nostálgico: felicidade e tristeza se digladiando em seu coração.

Ma’a Salama!

O Melhor de 2023

Findo 2023.
Triste final de ano para a minha terra (sou palestino nascido em Jerusalém, para quem não sabe), acometida no último trimestre por um evento violento, com práticas genocidárias aos olhos do mundo (no ataque e na represália), em tempo real e com a atmosfera da impotência a depreciar a alma dia a dia.
Para quem segue o site aqui, já sabe que posto somente as melhores coisas, ou boas.
Mas o bloco que inicio, que é o de leituras vai para um livro importante para tudo o que está acontecendo:
Meu Nome é Adam, de Elias Khoury.
O livro é uma reconstrução da memória do Adam do título, nascido na Nakba (catástrofe palestina), e perpassa o massacre de Lidd, um dos muitos vilarejos que sofreram extermínio no início da ocupação israelense.
Muitas histórias de 1948 foram caladas por décadas, ocultas em narrativas que lutam para ganhar luz.
E esse romance é triste e belo em retratar essa memória de dor, de luta e esperança.
Tradução de Safa Jubran.

Meu Nome é Adam
Meu Nome é Adam



Onde Pastam os Minotauros, de Joca Reiners Terron.
Um abatedouro de bois especializado em halal (selo acordado de práticas ligadas à lei islâmica) no interior do Mato Grosso, com fábula do minotauro pelo ponto de vista dos bois e minotauros. Há palestinos em um paratexto intercalado com outros paralelos, seja na matança pelo consumo amparado pelo capitalismo sanguinolento, seja pelos labirintos das noções que temos de nossos meios para sobreviver na esperança de um dia o mundo ser um lugar mais… justo.

Roxo, de Andréa Berriell.
Fazia tempo que não lia um romance policial tão bom. E não é somente um romance policial, é uma narrativa envolvente que segundo muita gente comentou nas redes: “Daria uma bela temporada de True Detective”.
Andréa Berriell transita entre passado e presente na trama com ótimas referências textuais e visuais que vão além da cor título.

Vou Sumir Quando a Vela se Apagar, de Diogo Bercito.
Yacub e seu melhor amigo Butrus trabalham numa vila precária e rural síria.
Há a saga de um jovem sírio que vem ao Brasil dos anos 1930. Algo que me fez refletir sobre as vivências de meu avô mascate que veio da Palestina para as terras brasileiras em décadas posteriores a da história, mas que provavelmente com muitos pontos a se imaginar sobre choques culturais.
É uma história sobre amor, tragédia, distância e escolhas, muitas escolhas.
Escolhas essas que são como um dedo a passar rente a chama de uma vela, transitando em dualismos, seja no Oriente-Ocidente, Real-Fantástico, Vou-Fico, Aceitação-Culpa.
E tem um Jinn no meio de tudo isso.


Corpo Desfeito, de Jarid Arraes.
É com uma técnica invejosa que Jarid conta a história de Amanda, que sofre pelas mãos de quem deveria ser seu porto seguro. Leitura que flui com uma facilidade sem perder o charme, fez um homem barbudo relembrar a atmosfera dos anos 90 e empatia por uma personagem sofrida.


Mil Placebos, de Matheus Borges.
A internet, ah, a internet. O que há na internet, e em nós mesmos nessa era multiconectada?
Mil Placebos é uma ficção científica, não somente do nível “Tudo tá sendo FC agora”, mais ou menos como a epígrafe de JG Ballard que tá no começo do livro.
Mil Placebos é do tipo de livro que acho melhor a pessoa se arriscar a ler sem saber muito, sem ler a sinopse e ir somente no “vai que é sucesso”.
Ah, aparece um palestino lá pelo meio.

A Telepatia Nacional, de Roque Larraquy.
O argentino Roque Larraquy é engenhoso no trato que dá ao mostrar o tráfico de indígenas para o projeto de um parque etnográfico, ou zoológico humano, na Buenos Aires dos anos 1930.
E para que o absurdo não pare aí, há um objeto trazido pelos indígenas que possibilita um evento telepático.
E tem um senso de humor de um nível que não esperava da terra dos hermanos.
Tradução de Sérgio Karam.


Das séries que tiveram suas últimas temporadas, vou sentir muito a falta de Succession.
E também de How To With John Wilson.
Velho demais para Morrer Jovem (Too Old To Die Young) foi uma surpresa caçada, dirigida pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn. Pesado.
Algo leve e que garante boas risadas é Na Mira do Júri (The Jury Duty), em que há toda uma estrutura de tribunal e julgamento encenada para enganar apenas uma pessoa que pensa que tudo é real oficial.
Planeta dos Abutres (Scavengers Reign) é uma série animada que mostra um grupo de trabalhadores espaciais “naufragados” em um planeta inóspito, com uma natureza tão mortal quanto bela. Ao que parece é a melhor coisa que a HBO (ou Max) lançou de novidade nesse ano.
Corpos (Bodies), foi uma minissérie bacaninha de ficção-científica envolvendo viagem no tempo.

Esse ano foi o que parei para assistir a uma indicação que um amigo fez na faculdade 15 anos atrás. E então assisti o anime Monster do criador Naoki Urasawa. Achei genial.
E fui pego de surpresa quando a Netflix lançou Pluto, outro anime de Naoki Urasawa. Uma minissérie que mostra um futuro em que humanos e robôs convivem com leis regendo suas vivências. A trama aborda as discussões que lembram Blade Runner, mas focando em um drama que vai ter paralelos com acontecimentos do mundo real (Guerra do Iraque pelas mentiras criadas pelos EUA) com o universo especulativo de lá (Guerra do Reino da Pérsia pelas mentiras criadas pelos Estados Unidos da Trácia).

Mas a série campeã foi Treta (Beef).
Um desentendimento no estacionamento acaba gerando um ódio entre Amy (Ali Wong) e Danny (Steven Yeun) que percorre os 10 episódios que vão além de uma perseguição de gato e rato. Falar mais que isso é entregar spoilers irresponsáveis. Ainda bem que não dirijo, e tenho a terapia (self-med-abs) em dia.


De HQs pouco consumi. Mas As Muitas Mortes de Laila Star, de Ram V, foi a melhor aquisição e leitura.
O desenlace da deusa da morte do hinduísmo ser demitida após o nascimento do deus que viria a inventar a imortalidade, e as reencarnações dessa demitida tentando se recolocar no mercado de trabalho com a tentativa de impedir que a pessoa nunca invente a tal da imortalidade, tudo é feito com uma sensibilidade, com homenagem cultural, e com cores e traços muito fodas que não via há tempos.



Se teve um documentário que merece respeito e é uma obra de noção da memória e da preservação da arte é Retratos Fantasmas de Kléber Mendonça Filho.
Tem a visão pessoal e intimista sobre o uso da casa que sua mãe construiu como cenário de suas produções. Tem mapas nostálgicos de uma Recife mágica onde povoa uma cultura incessante. Tem um projetista que enjoou de O Poderoso Chefão (The Godfather) e viu vantagem quando fardados da ditadura chegaram para encerrar o cinema: “é bom que vou largar mais cedo”.
Ah, e tem um cabra que fica invisível.
Uma pena que a Academia do Oscar não o considerou como indicado.




Todo um auê por Barbie e Oppenheimer que uniu a internet para infinitos memes, e sim, os filmes são bons, mas também superestimados diante de todo esse auê.
Os meus favoritos desse ano:
Piscina Infinita (Infinity Pool), dirigido por Brandon Cronenberg (sim, filho daquele Cronenberg), que tem a Mia Goth em outro papel de doida.
Os Banshees de Inesherin, com a dupla Colin Farrel e Brendan Gleeson que repetiram a dinâmica belíssima que já tinham feito em Na Mira do Chefe (In Bruges). Nesse filme com um humor bem irlandês vemos uma amizade que se transforma em um duelo de ódio.
Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon), o último do Scorcese com o DiCaprio e DeNiro é um resgate histórico sobre o povo Osage, de sua sorte em descobrir petróleo em sua reserva, e do azar do homem branco se levar pela habitual ganância e o extermínio ignorado.
Há uma menção rápida ao massacre de Tulsa, que sugiro uma pesquisa sobre o acontecimento que também é de pouco conhecimento (abordado na série Watchmen).
Scorcese foi mestre em não transformar a história de Assassinos da Lua das Flores em uma mascarada ode aos símbolos americanos, creio que outro diretor poderia dar toda luz na narrativa focada no “surgimento do FBI”.


Menções honrosas para:
Clonaram Tyrone (They cloned Tyrone), que foi subestimado.
Tár, da Cate Blanchet sendo a artista gênio cujo umbigo é o centro do universo.
El Conde, do diretor chileno Pablo Larraín, que reimaginou o Pinochet como um vampiro e que assim sendo, não morreu em 2006.
Beau Tem Medo (Beau Is Afraid), em que Joaquim Phoenix está ansioso (e com medo?) a vida inteira (umas 3 horas).
O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind), do diretor Sam Esmail, que fez uma das melhores séries da história (Mr Robot), num panorama apocalíptico. Ah, o filme é produzido pelo casal Obama.

Em se tratando de música fui um tiozinho bem agarrado ao passado nesse ano.
Mas posso destacar o ótimo trabalho de Tyler the Creator: Call Me If You Get Lost: The Estate Sale.
Um rapper que me fez gostar da música Wharf Talk e Dogtooth, grande indicativo de que o cara é bom.
Sem dizer na ótima Sorry Not Sorry, com um clipe que mostra suas versões artísticas em uma reflexão com possíveis culpas.

Mas Tyler merece também um puxão de orelha.
Agora em dezembro lançou um clipe para divulgar a sua marca de roupas utilizando uma música brasileira na íntegra (Duplo Sentido performado por Tetê da Bahia; cujo compositor é Gilberto Gil).
A encrenca se dá pelo fato de não ter mencionado/creditado/combinado os direitos com os produtores.
“Why you puttin’ bad vibes in the?”


Ah, e não menos importante, lancei novo livro esse ano:
Quase Mortes.
Uma coletânea de contos com o tema morte em suas objetividades e subjetividades nos mais diversos gêneros.


Você pode comprar a versão impressa aqui.
E o ebook também está disponível aqui.


Na esperança por um 2024 com mais justiça, humanidade e paz.
Ma’a salama!

O Melhor de 2022

Findo 2022.
Quem não sofreu de ansiedade não viveu esse ano direito.
Da parte de minha carreira (quase anônima) literária optei por não publicar esse ano. Tive uma boa experiência nos dois anos anteriores com o KDP e ótimos retornos de leitores Brasil afora, mas decidi administrar o até então por enquanto.
Não será um hiato, é mais uma reavaliação das pouco mais de 250 mil palavras publicadas.
Dito isso, parto abaixo para a retrospectiva do que consumi artisticamente (todo entretenimento que me convém) filtrado pelo seu melhor.


De livros clássicos tive a oportunidade de conhecer Ursula K Le Guin e me encantar com sua prosa em A Mão Esquerda da Escuridão.
Dei uma segunda chance para o Gabo e concluí Cem Anos de Solidão.
Li um Pynchon, foi o Leilão do Lote 49. Lerei outra coisa dele? Não tão cedo.
De amigos contemporâneos pude ler de Fábio Fernandes o Love Will Tear Us Apart com a experiência hipnótica de Ian Curtis. Adquiri e li também o mais recente do Cirilo Lemos, o Estação das Moscas, que acompanha crianças em Nova Iguaçu nos anos 90 brincando nas ruas e redondezas e seu personagem principal, o Jona que depois se torna Jona Abscura ao ter que enfrentar uma criatura maligna que não tem mais o que fazer.
No ano em que as 5 finalistas do prestigiado Prêmio Jabuti foram mulheres, também elenco aqui cinco nomes do que li:
Irka Barrios por seu Júpiter Marte Saturno. Os contos preferidos foram A Letra A, Damião sob a Pirâmide e o Viúvas do Silo que merecia se tornar um curta.
Socorro Alcioli por seu A Cabeça do Santo. Rico em realismo mágico e brasileiríssimo.
Carla Madeira com seu Véspera, sensível e atordoante, das tragédias familiares e afetivas.
Maria Fernanda Ampuero por seu Rinha de Galos. Com violência agregada em cada parágrafo.
Natalia Borges Polesso por seu A Extinção das Abelhas. Distópico sensível e perturbador em uma prosa sofisticada e fácil de ler.


Júpiter Marte Saturno
Júpiter Marte Saturno

Das séries foi um ano de fechamento de algumas que amava como The Last Kingdom e a deleitosa Better Call Saul, que foi uma prequela sensacional e bem costurada até emendar com a queridinha Breaking Bad.
Além de um grande início: Sandman.
Após décadas Neil Gaiman conseguiu transportar o senhor dos sonhos dos quadrinhos para a telinha.
Mo, uma dramédia de um palestino vivendo no Texas e lutando por seu direito de conquistar a cidadania na terra da oportunidade.
A britânica Slow Horses também foi um grande acerto da Apple TV. Com Gary Oldman dito em muitas sinopses como o “007 que não deu certo”.
Foi um ano de quase fins. Pois Peaky Blinders deu a deixa para o tão comentado e possível filme com uma conclusão mais digna.
The Crown que jurava que era a última temporada, fiquei feliz de saber que haverá outra.
E Stranger Things que já deu, né?

Mas as melhores que ocupam o pódio são:
Andor, que mostrou que a Disney às vezes cochila e os produtores conseguem fazer algo muito bom. É a prequela da prequela Rogue One, feita com dedicação ao cânone e com o zelo de contar uma história sobre rebeldia (Sim mimizento de direita, desde 1977 já existia os rebeldes, conviva com isso).
Uma boa surpresa foi a série documental/primeira pessoa/cronista How To With John Wilson. Em que um carinha com uma câmera explora o dia a dia ianque em episódios curtos que mostram absurdos sem fim dentro da pauta em que se desdobra. Olha, se eu tinha dúvida de que Nova York tem doido ela foi sanada com essa série. Por sorte há uma nova temporada saindo do forno agora em dezembro 😊.
Landscapers é uma minissérie com os sensacionais David Thewlis e Olivia Colman interpretando um casal estranho mediante um caso de homicídio.
Mas a mais fodástica é a Ruptura (Severance).
O tema casou muito bem em uma época em que a pandemia ainda faz parte do cotidiano mundial e as corporações passaram a vender muito o mote do benefício entre separar “vida pessoal da profissional”.
Acho injusto lançar a sinopse aqui. Será mais proveitoso ir tão somente pelo meu gosto e selo de aprovação.


"Lá vem o RH falar sobre meritocracia e porque não terá PLR nesse ano"
“Lá vem o RH falar sobre meritocracia e porque não terá PLR nesse ano”

De documentários achei interessante ter sabido que houve um Woodstock em 1999, pelo Desastre Total: Woodstock 99. Que teve bandas de rock da minha época de roqueiro expressivo, vibrando de maneira bem diferente do que foi a clássica e lendária Woodstock de 1969.
E é lógico que a minissérie documental vai mostrar que deu errado esse festival, muito errado.
Mas o que mais ressoou foi o Diários de Andy Warhol (The Andy Warhol Diaries).
Essa minissérie documental narrada pelo próprio Andy através de uma inteligência artificial através de seus escritos de seu diário pessoal deu uma visão mais humanizada da figura icônica, cuja imagem que eu tinha dele era um tanto plástica demais. Toda a transformação da arte pop está lá com seus pares contemporâneos e suas desventuras e tragédias.

Expoentes da Arte: Andy e Basquiat
Expoentes da Arte: Andy e Basquiat

Única ida ao cinema foi para ver Elvis, dirigido por Baz Luhrmann. Um filme para o grande público, que cumpre o papel de mostrar os detalhes da vida do tal rei do rock com foco em sua tragédia pelas mãos de seu empresário picareta e manipulador Tom Parker.
Boas surpresas com Speak No Evil e a estranheza da passividade de alguns povos europeus.
Vengeance com uma história de mistério e construção artística que lembrou o meu livro A Melhor Parte da Mentira (escrito em 2015, e que um dia será publicado, ô se vai).
Nada de Novo no Front (All Quiet in the Western Front) é o melhor filme de guerra do ano.
Argentina 1985 é memorável, indica o erro do passado de não termos feito algo semelhante em terra brasilis.
Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness) é a comédia que navega sobre a temática de conflito de classes.
Titane é um ótimo body horror com uma desgraceira sem limites.
A Mão de Deus (È stata la mano di Dio) é um ótimo italiano, Sorrentino saberá criar seu legado ao nível de Fellini.
Uma das maiores expectativas e que por culpa da espera não chegou a ser um “dez” foi O Homem do Norte. Mas alto lá, é um filme nota oito. Com grande produção e ambientação do diretor de A Bruxa (The Witcher) e O Farol (The Lighthouse).
Outra promessa que me deixou na expectativa foi Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everwhere All at Once).
Mas esse superou a expectativa já alta. Tem ótimas e engraçadas atuações de Michelle Yeoh e Jamie Lee Curtis, em um enredo de ficção científica explorando o conceito de multiverso, que mesmo saturado no entretenimento, foi original e bem desenvolvido.
Mas o primeiro lugar, deve ser para o 13 Vidas (Thirteen Lives), lançado na Amazon Prime, com Viggo Mortensen e Colin Farell nos papeis de dois mergulhadores que ajudaram no resgate de um time de futebol mirim presos em uma caverna na Tailândia.
O enredo é sublime pela simplicidade de demostrar a trama ocorrida em 2018 e que foi amplamente acompanhada mundo afora durante a copa do mundo daquele ano, balanceado com os pontos de tensão reais, enquanto há uma enorme cooperação local e internacional pelo resgate quase impossível.

Menções honrosas: Bardo – Falsa Crônica de algumas verdades (Falsa Crónica de unas Cuantas Verdades), Glass Onion, A Tragédia de MacBeth (The Tragedy of Macbeth), Não, Não Olhe! (Nope), X – A Marca da Morte, Top Gun Maverick, Men, Mulher Rei (The Woman King), A Lenda do Cavaleiro Verde (The Green Night)

Respire fundo antes de assitir
Respire fundo antes de assitir

De gibis (ou HQ se preferir) curti o Intempol – Agora, de Octavio Aragão.
Com histórias diversas com roteiristas e artistas singulares, essa antologia mostra que temos uma ficção científica brasileira pujante. E que deveria ser mais valorizada.
Fica a dica.

Intempol - Agora
Intempol – Agora









Como bom ouvinte de rock, estou sempre mais atento a lançamentos desse gênero, então não pude deixar de ouvir os álbuns lançados das bandas Planet Hemp (Jardineiros), Slipknot (The End, So Far), Ratos de Porão (Necropolítica).
Apesar de ter gostado desses trabalhos, o melhor desse gênero foi da banda alemã Rammstein com seu magnífico Zeit. Angst ficou no repeat por algumas semanas.

Mas a melhor coisa lançada para satisfazer os meus tímpanos foi o belga Stromae com seu Multitude.
Stromae dominava as rádios no início dos anos 2010.
Mas só nesse ano que me cativou com esse álbum e músicas como L’Enfer, Fils de joie e a minha predileta Santé.

L'enfer
L’enfer

Se pudesse resumir 2022 seria como a minha (única) ida a praia nesse ano.
Por sorte as águas estavam numa temperatura excelente.
Por azar as águas estavam muito violentas, transtornando um bom banho de mar, com ondas que golpeavam furiosas, forçando essa pessoa que não sabe nadar para fora.
E foi assim mesmo esse ano, não foi ruim, mas o fim vem com grande alívio.


"Ainda bem que raspei o cabelo, não vai sair a calvície"
“Ainda bem que raspei o cabelo, não vai sair a calvície”

Ma’a salama 2022!

Mo (Série da Netflix)

Eu iria colocar como título Mo – Um palestino no Texas, mas tive o receio de que interpretassem como um subtítulo brasileiro genialmente pensado pelo marketing.
Mo é uma série que estreou em agosto na Netflix em amplitude mundial.
O que mais me chamou a atenção é que a produção é da A24, estúdio responsável por grandes filmes nos últimos anos, principalmente de terror e com liberdade criativa atribuída aos produtores.
A série é estrelada por Mo (Mohammed) Amer como o personagem-título. A série é vagamente baseada na própria vida de Amer como um refugiado palestino que vive em Houston, Texas.)
Os americanos adoram reduções de nomes, Mohammed vira Mo (ou Moe), Alphonse vira Al (lembra do famoso mafioso Al Capone? Pois é), e nunca vi nisso um problema.
Considero a abreviação até charmosa.
Maratonei a série assim que estreou e o meu veredito é positivo, adorei o roteiro amparado na dramédia.
Sabia que existia um comediante chamado Mo Amer, mas nunca assisti nenhum stand-up dele, ou qualquer outra produção.
Como um palestino em uma família que está aguardando a oficialização da cidadania americana, empacada por burocracias mil e envolvida em todo rolo que é ser um imigrante refugiado palestino, o personagem se desdobra para viver e manter as contas em dia no tradicional estado do Texas, que a título de curiosidade, nos últimos anos tem sido figurado em um movimento separatista dos EUA com o nome TEXIT (pegando carona no Brexit) conquistando diversos políticos republicanos no engajamento.
A série não se perde muito em grandes explicações, não é documentário, é de fato uma dramédia focada em um personagem que mal segue o islã e vive em um ambiente culturalmente misto (a namorada de Mo é descendente de mexicana) em um estado tradicional e que possui grande luta contra imigrantes ilegais.
Mo tem nuances de todo o rolo cultural envolvido, muitas das piadas expressas eu vivenciei de alguma foram aqui no Brasil.
É sobre a ignorância histórica e geopolítica sobre a região, como muitas pessoas confundindo Palestina com Paquistão, ou então atribuindo referências judaicas quando tento esclarecer e centralizar sobre onde nasci: “Shalom!”, dizem muitos em boa intenção, mas equivocados porque sou do outro lado da fronteira e apesar da palavra para paz em árabe ser muito parecida (Salam), isso cai na dor de sermos um povo muitas vezes ignorada em seus problemas atuais (liberdade, refugiados, conflitos).
Veja, não clamamos o pódio de coitados número da região, há diversos povos que têm sofrido e muito em tempos recentes, procure pela situação dos curdos ou iemenitas por exemplo.
Porém, a causa palestina é algo que perdura há décadas, nossa Nakba começou no século XX, e não há milênios atrás.
São muitos detalhes a serem apontados, e todos considero importantes, pois são pequenas lutas, até erros de legenda que me incomodaram pelo simbolismo da luta que enfrentamos.
No segundo episódio intitulado “Mãe” há o detalhe descuidado por quem traduziu e legendou a frase original em inglês:
“Not as beautiful as back home but nice”
Ficando como:
“Não tanto quanto as de Israel, mas é”
O personagem é palestino, lar (home) para ele não é Israel, e sim Palestina.
E isso ocorre logo após uma cena em uma fazenda de azeitonas em que dois fazendeiros texanos expressam sua ignorância quanto a cultura.
Acho bom deixar claro que não culpo quem traduziu e legendou a série para português, tampouco rebaixar o seu trabalho, até porque tenho a impressão que esse ofício não é dado a cronogramas extensos, ainda mais quando a estreia da série é realizada na plataforma de forma mundial.
Esse foi um exemplo pequeno e ao mesmo tempo que incomoda que me deparo desde que me conheço como palestino vivendo no ocidente.

No mais, Mo é uma boa série contemporânea para assistir e dar umas risadas.

Mo
Mo

Ma’a salama!

O Melhor de 2021

Geralmente, tento dar chance para algo lançado no ano, com preferência para autores nacionais, sejam da vanguarda ou novos.
Mas confesso que esse ano foquei em uma fila de títulos mais antigos.
Descobri alguns nomes nacionais bem legais, como Samir Machado de Machado com o belíssimo “Homens Elegantes”, romance histórico de aventura no século XVIII recheado de referências da cultura pop com uma trama de espionagem de dar orgulho a Ian Fleming. Ainda mais que o desprezo pelo vilão já é garantido por ter um nome conhecido por todo cidadão brasileiro.
Adorei também “Cidades Afundam em dias Normais” da Aline Valek.
Desbravei a leitura de Zero K e agora sou iniciado em Don Delilo, um dos Big Four da literatura americana segundo disse uma vez Harold Bloom.

Mas o preferido do ano foi Ubik, de Philp K. Dick, o mestre da ficção científica.
Em Ubik se faz presente a paranoia comum nos livros de Dick, principalmente quando a trama dá corda, após a introdução do lugar comum do futuro em que a humanidade está presente no sistema solar, bem como há uma variedade de precogs, telepatas e humanos com capacidades especiais. Em contrapartida há empresas que trabalham com segurança contra esses especialistas.
Adiantar ou resumir qualquer outro detalhe estragaria todo o prazer que a obra pode proporcionar. De longe a minha predileta do autor falecido antes mesmo que Blade Runner fosse estreado.

"Eu estou vivo e vocês estão mortos"
“Eu estou vivo e vocês estão mortos”

Ah, como aqui a autopropaganda é permitida, acho bom ressaltar que lancei mais uma obra de Ficção Científica e Fantasia: Na Era em que os Gárgula Andavam
Está com um preço bem camarada e agradeço os feedbacks se gostar. ;)


Musicalmente considerei um ano fraco. Quase não acompanhei grandes lançamentos, e os que me chegaram não foram lá grande coisa.
O que cativou foi a banda Margaritas Podridas, do México, com protagonismo feminino e com grande influência no grunge e psicodélico.

Cobain curtiria
Cobain curtiria



Li poucos quadrinhos.
Mas o melhor é o argentino “Guarani – A terra sem mal”, com roteiro de Diego Agrimbau e arte por Gabriel Ippóliti. A HQ conta sobre a guerra do Paraguai, em que o Brasil participou e foi responsável por exterminar a maior parte da população paraguaia. A história acompanha o fotógrafo francês Pierre Duprat, contratado para registrar o violento episódio.

Crianças no front paraguaio
Crianças no front paraguaio

Duas séries documentais que mexeram comigo esse ano, ambas para ficar com nojo, uma para um ícone do cinema, outra para com o racismo estrutural:

Allen Vs Farrow: essa série documental me revelou as denúncias bizarras contra Woody Allen, o grande cineasta e queridinho ianque. Se já entortava o olhar com a histórica dele ter se casado com a filha adotiva fiquei puto ao saber do abuso que fez com a outra filha. Dificilmente assistirei outro filme dele novamente, e olha que dá dor ao lembrar que adoro Noivo Neurótico Noiva Nervosa (Annie Hall).

Colin em Preto e Branco (Colin in Black & White): Colin Kaepernick (Jaden Michael), ex-jogador de futebol americano que atuou no San Francisco 49ers narra a sua história, desde a adolescência, indicando e apontando os detalhes do racismo estrutural, englobando até mesmo a família, pois era adotado por uma família branca ingênua quanto a questão racial. Com as dramatizações, é uma ótima indicação para quem quer entender as perspectivas do atleta que ganhou notoriedade quanto a causa ficando de joelhos durante o canto do hino na NFL.

Colin em Preto e Branco
Colin em Preto e Branco

Alguns filmes tão esperados não decepcionaram.
Um exemplo é Duna (Dune), o filme de Denis Villeneuve com estonteante trilha de Hans Zimmer não cambaleia em nenhum momento. Achei ótimo terem dividido o primeiro livro em duas partes. O ruim é ter que esperar até 2023 a conclusão…

Gostei também da versão Snyder da Liga da Justiça, foi um filme melhor que a versão lançada em 2017. Com melhores arcos e noção de um saga que o diretor tinha pensado, e que infelizmente não verá a luz do dia, a não ser que os fãs façam barulho por isso. Bom, funcionou para o lançamento de seu corte, veremos o que vai dar.
Pelo menos o tio Zack lançou outro filme de zumbis: Exército dos Mortos (Army of the Dead), que é pipoca, mas legalzinho para a proposta.

Grande destaque do ano para o tenso e comovente Meu Pai (Father) com atuação merecida de Oscar de Sir Anthony Hopkins sobre o alzheimer.

Ataque dos Cães (Power of the dog) lançado no último mês foi uma boa surpresa também, não a toa é uma das apostas da Netflix para o Oscar.

Porém, o pódio dos filmes vai para o indiano Tigre Branco (White Tiger).
Nem lançarei a sinopse, esse tipo de filme deve ser visto assim como experimentei, sem ver o trailer.
Pois se espera o típico filme de bollywood vai sentir o baque de uma história que escancara a existência das desigualdades de um país que tem um abismo a ser vencido entre sua monumental população.

Mencões honrosas para: O Culpado ( The Guilty) e A Crônica Francesa (The French Dispatch).

No final do filme não tem dancinha
No final do filme não tem dancinha

De séries tive muita expectativa com Fundação (Foundation), então o meu sentimento quanto a primeira temporada é morna, não somente por ser fã dos livros do mestre Isaac Asimov, mas pela condução da trama que ganhou traços entendíveis pelas mãos do roteirista David Goyer, porém, que tropeça em cativar com a noção do todo.
Y – O último Homem (Y – The Last Man) acabou sendo cancelada na primeira temporada, o que é triste, pois a série tinha um potencial muito forte e necessário a ser explorado.

Cowboy Bebop infelizmente não teve fôlego e foi cancelada na primeira temporada. Uma pena, pois o anime está no meu Top5 de sempre.

A alemã Babylon Berlin foi uma ótima descoberta, com uma produção caprichada para dar o tom de 1929 na capital da Alemanha pós primeira guerra e que caminhava para os ares do nazifacismo posterior. Minha bronca foi com o final da segunda temporada para frente (até a terceira) em que a trama se tornou rocambolesca. Espero que melhore na quarta temporada.

Invincible foi um desenho para agradar os fãs de The Boys que não tiveram uma terceira temporada esse ano.
Them foi outra série boa, embora considere o elemento do horror pouco cativante se posto do lado do racismo que a tal família da vida real deve ter enfrentado.

A conclusão de Narcos México foi bem articulada, com um arco em paralelo que rendeu um complemento interessante quanto a questão de violência doméstica além do mundo do narcotráfico.

O pódio das séries vai para a terceira temporada de Succession.
Por que pouca gente está assistindo isso? É uma série primorosa, de dramédia para sentir repulsa de uma família rica e idiota, não tem como não gostar.

"Fuck off!", na voz de Logan Roy
“Fuck off!”, na voz de Logan Roy

Por fim encerro essa modesta retrospectiva com uma foto que me deixa consciente do privilégio da vida boa que tenho, mediante todos os acontecimentos que o povo brasileiro sentiu nesse ano tenso, quando a pandemia chegou a ser mais mortal que no ano anterior e a economia bagaçada nessa lama de péssimas decisões políticas.
A vaca magra posta dias depois do Touro da B3 é um retrato mais fiel e verdadeiro da realidade de muitas famílias que infelizmente sofrem para garantir o mais básico na mesa de jantar.

Touro de Tolo versão magra
Touro de Tolo versão magra



2021 se vai com grande benção a 2022, ano copa do mundo, eleições, e de esperança de mudança.

Vamos que vamos.
Ma’a Salama!

Na Era em que os Gárgulas Andavam

Olá!

Na Era em que os Gárgulas Andavam é meu mais novo livro, publicado de forma independente em ebook pelo KDP da Amazon.
Está com um preço (por tempo limitado) inaugural bem camarada: R$ 5,99 (Cinco reais e noventa e nove centavos).
Para comprar basta clicar neste link: https://www.amazon.com.br/dp/B09HP4WMN2


Sinopse:

Dalileia, uma jovem marinheira, encontra no porão do navio de escravos um livro em branco.
Livros não religiosos não podem ser lidos ou tocados.
A escrava Annapuris indica que há um texto oculto no misterioso livro.
Curiosa, Dalileia aceita a ajuda da escrava que consegue revelar o texto que desafia as regras da maior religião monoteísta contando outra versão da história.
Pela leitura clandestina desbrava um passado fantástico repleto de aventuras e se simpatiza por um gárgula com o dom da cura, mas que até então era considerado uma criatura das trevas.
E como parar quando a primeira linha já a condenou à perdição?
“Esses são relatos de uma era em que os deuses eram insultados, reis caíam e os gárgulas andavam”

Em Na Era em que os Gárgulas Andavam são homenageadas a literatura, a ciência, a liberdade de pensamento, a ficção científica e fantasia.

Espero que goste dessa obra, está repleta de aventuras em um universo especulativo onde a fantasia e a ficção científica batem de frente assim como em minha obra anterior (Ouro é para os Fracos).
Acompanhe a jovem marinheira Dalileia na descoberta de um mundo oculto.
Torça pelo gárgula Rindovel envolvido em tramas políticas que envolvem grandes reinos.
Viaje pelos domínios de ThuninVor, GaenBorn, LintsDam, MamoninGal, BastinVor, BalesqVor, CrontFenas, AstorGian.
Prenda a respiração enquanto vislumbra lutas em arenas clandestinas, torneios contra soldados reais em labirintos mortais, fugas impossíveis, encontros com o Necromonte, sabotadores invisíveis e seres que se dizem próximos da maior divindade do mundo conhecido.

Na Era em que os Gárgulas Andavam
Na Era em que os Gárgulas Andavam

Embarque nas páginas dessa Rocky Saga e tenha uma boa leitura.


Ma’a Salama!

Naruto ou A Cruzada das Crianças

*** CONTÉM SPOILERS ***

Descobri o que era Filler quando mencionei que desejava assistir Naruto, e amigos me disseram que tinha muita encheção de linguiça e acabaram por explicar do que se
tratava.
Ninguém poderia me chamar de Otaku, hehehe.
Ao iniciar em 2020 a saga do garoto loiro com a raposa de nove caudas selada em seu corpo, a constatação veio certeira: uma penca de episódios que desanimam quem não é naruteiro raiz.

O Time 7
O Time 7

Fico satisfeito com o término de Shippuden, que fechou a estória proposta desde o início, explicando o surgimento do mundo ninja e dos chakras.
Tanto que não tenho interesse algum em ver Boruto (Naruto Next Generations).

No entanto, foi uma experiência legal acompanhar essa saga criada por Masashi Kishimoto.
Ao longo de pouco mais de um ano e meio acompanhei os dois volumes (com fillers) e o resultado foi positivo.
Não somente pela estética e trama de grandes batalhas que satisfazem o estilo Shonen (a luta entre Gaara e Rock Lee é umas melhores da série), ou pelo fato de me manter atualizado com uma nova geração que enchia as redes com referências naruteiras e com cosplays das tais capas pretas com nuvens vermelhas da akatsuki.


Ou então pelas diversas referências religiosas e mitológicas como do Xintoísmo (Izanagi – pai dos deuses, Izanami – mãe dos deuses, Susano – deus do mar, Amaterasu – deusa do sol), ou Hinduísmo (Chakra, Flecha de Indra, os sete caminhos de Pain) entre outras.
São detalhes que enriqueceram muito a experiência, mas um dos maiores destaques ao desenrolar da série, tanto do volume 1 (Naruto) quanto do volume 2 (Shippuden) é que 95% dos arcos de personagens são voltados para dramas e traumas ocorridos na infância. Tanto que a série poderia muito bem ter o subtítulo de “crianças sofridas”.
O que para uma cultura como a do Japão se encaixa num patamar de confronto ao que vivem: suicídios em altos índices em crianças e adolescentes, niilismo da juventude expresso em diversos grupos, dúvidas das novas gerações quanto a economia e afins.

Arrisco a dizer que Kishimoto é um grande artista devido a essa consciência artística nobre, que é de destaque quando se produz conteúdo para crianças e adolescentes consumirem.
Espero que tenha alcançado o coração de gerações com o espírito de amizade, fraternidade, liberdade e sonhos vívidos expressos entre uma luta e outra e refeições de ramen.

Ma’a Salama Dattebayo!

Para entender Palestina x Israel – Parte 1

Se você tiver um interesse genuíno em entender o conflito Palestina x Israel, com paciência e dedicação mínima, além dos noticiários e postagens internéticas deixo aqui algumas recomendações de filmes e documentários, não somente de produções palestinas, mas do lado israelense também.
Por ter nascido lá, ter família nos territórios ocupados, é óbvio que sempre terei o ponto de vista a partir da Palestina, a favor da liberdade, dignidade e prosperidade desse povo que sofre não somente há décadas, mas há séculos, considerando que o território palestino sempre esteve ocupado por outras potências e impérios.
Por ter sido criado em terras tupiniquins, não seguir cegamente uma religião e ter uma visão humanista, sempre busquei atenuar o óbvio ódio que inflamaria ao ver qualquer notícia de lá.
Se você entender a questão palestina, tenha em mente que não deve odiar Israel, ou pior, se tornar um antissemita.
As atuais lideranças extremistas dos dois lados são repugnantes e desumanas. Mas tenha certeza que a maioria de civis de ambos os lados desejam a paz e infelizmente são os que mais sofrem.
Os palestinos, além da paz, também são esperançosos quanto a um direito básico: liberdade.


Filmes

O Paraíso, agora! (Paradise Now; 2005) [PALESTINA]
Em Nablus, Said e Khaled, dois jovens amigos de infância se alistaram em um grupo terrorista.
O chamado vem e são escalados para uma missão suicida em Tel Aviv.
O filme demonstra de forma muito humana os personagens, indicando os pormenores das famílias dos homens-bomba, suas motivações, além de mostrar as diferenças entre os dois lados da fronteira.
Há certos momentos de humor bem dosados na quebra da tensão.

Belém: Zona de Conflito (Bet Lehem; 2013) [ISRAEL]
Belém é uma cidade de grande importância para os cristãos. E sim, há palestinos cristãos na cidade palestina de Belém, que abriga a igreja da natividade, denominado como o local de nascimento
de Jesus Cristo.
No filme, a cidade é palco de disputas de soldados israelenses contra grupos terroristas como o Hamas que querem expandir seus domínios além da Faixa de Gaza.
O jovem Sanfur é recrutado por Razi, um agente do serviço secreto Shin Bet como informante.
A trama mostra o desenrolar crítico entre os dois lados e o desequilíbrio do jovem informante.
Há diversos pontos narrativos que considero tendenciosos, de modo discretos, através de arquétipos, mas o roteiro contém vários detalhes que sumarizam e muito a essência do conflito, principalmente sobre teimosia:
“Ainda assim é uma cabra”

Após esses dois filmes fique a vontade para ver uma penca de outros:
[Palestina]
O Paraíso deve ser Aqui ( It Must Be Heaven; 2019)
Omar (Omar; 2013)
O Ídolo (Ya Tayr el Tayer; 2017)

[Israel]
O Limoeiro (The Lemom Tree; 2008)
Valsa com Bashir (Valtz with Bashir; 2008) *animação dirigida por um ex-soldado
Uma Garrada no Mar de Gaza (A Bottle in the Gaza Sea; 2013)

Série

Our Boys (2019) {ISRAEL-PALESTINA}
Essa série da HBO é uma produção em conjunto entre Israel e Palestina, abordando as trágicas histórias dos adolescentes mortos em 2014, primeiro os três judeus sequestrados por terroristas
árabes e mortos, e posteriormente o sequestro de um jovem palestino por um grupo de judeus fanáticos que desejavam fazer justiça com as próprias mãos.
Em dez episódios são mostrados o ocorrido, a investigação e o julgamento do grupo israelense-judaico responsável pelo sequestro do jovem palestino.
A série deixa claro o problema que ambos os lados enfrentam ao lidar com seus fanáticos que agem por conta própria, pois até mesmo o Hamas nunca assumiu a autoria do plano do sequestro dos três jovens judeus.
O conflito de 2014 foi um dos mais sangrentos das últimas décadas.

Listei os filmes primeiro, pois a arte e adaptação humaniza, remove o preto e branco, o lado certo, o lado errado.
Após ver esses filmes, sugiro ver documentários que exploram o assunto.
Há dezenas deles, certamente, indicariam o Occupation 101, mas para ser franco, há dois que elenco como essenciais:

5 Cameras Quebradas (5 Broken Cameras) [PALESTINA-ISRAEL]
Feito de forma “artivista”, caseira, político desgarrado de vínculo partidário, muito sincero e que mostra a luta que escoe pelo tempo.
5 Câmeras Quebradas mostra Emad Burnat e suas cinco câmeras filmadoras que foram destruídas durante os anos de documentação da resistência pacífica-criativa e protestos contra o contínuo roubo de terras palestinas por colonos apoiados pelo exército e aparato sofisticado de um estado imensamente superior.
Esse documentário me tocou muito, porque muitas cenas que são mostradas tinha visto no decorrer dos anos em noticiários de sites como Haaretez e YnetNews.

Os Guardiões (The Gatekeepers; 2012) [ISRAEL]
Seis ex-chefes ainda vivos do Shin Bet, o serviço de inteligência israelense criticaram em entrevistas elaboradas pelo diretor Dror Moreh abertamente a política de segurança
de Israel, incluindo missões que causaram inúmeras vítimas civis e assassinatos de líderes palestinos.
Esse documentário aborda principais tópicos do conflito desde a fundação do estado de Israel em 1948.
Esse documentário me perturbou em vários momentos, talvez, por ser sincero quando os entrevistados são antigos “Heads” que tomaram grandes decisões, apartando uma estética “artivista”.
As conclusões dos entrevistados continuam refletindo o grande problema em que o estado vem se atolando.

Espero que essas indicações ajudem a entender o que acontece lá.

Salam (paz)!
Ma’a Salama!

Prêmio Le Blanc 2021

Pessoa querida!

Se leu e curtiu o meu último livro publicado (a saber, Ouro é para os Fracos), peço aquele apoio camarada em votar no mesmo no Prêmio Le Blanc 2021.

O prêmio é organizado pela escola de Comunicação da UFRJ (ECO/UFRJ) e a Universidade Veiga de Almeida (UVA).
O nome do prêmio é uma homenagem ao artista haitiano André Le Blanc.


Para votar é muito simples, basta acessar o link abaixo e informar apenas nome e e-mail e o livro indicado na categoria.

[EXPIRADO EM 23/04/2021]
AGRADEÇO DE CORAÇÃO A TODOS QUE VOTARAM :)


Link: https://forms.gle/mHGCgiWXatRXEX6H6

Segue abaixo exemplo para votação na cédula.

Após inserir e-mail e nome completo basta digitar o nome da obra na categoria “Romance nacional inédito…“, nesse caso: Ouro é para os fracos


Caso não tenha lido nenhuma coletânea pode deixar a categoria “Antologia/Coletânea… ” em branco.

Clique em “Submit” e pronto.
Você estará me ajudando nessa primeira fase do prêmio.

Agradeço o apoio desde já.

Ah, se você não comprou ainda Ouro é para os Fracos ele está disponível na Amazon com desconto.


Ma’a Salama!