Dá pra imaginar que pelo título desse post há um daqueles caprichos de críticos que tentam mostrar os seus conhecimentos gerais sem medo de cometer gafes.
Não vou estender muito e não vou entrar no pavê da sensibilidade artística, apesar do título que usei.
Paguei um pau quando vi o trailer estendido, com pouco mais de cinco minutos de duração, de Gravidade, filme escrito e dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón, que já havia nos presenteado com o sensacional E a sua Mãe Também (Y tu mamá también).
SPOILERS em órbita:
O filme já inicia no nível estratosférico, em que três astronautas realizam a instalação de um novo mecanismo de pesquisa avançada no telescópio Hubble, que já bisbilhotou muita coisa universo afora.
George Clooney é o astronauta veterano que auxilia o trabalho dos outros dois, treinados especificamente para a instalação. Em pouco tempo, entre historinhas que George Clooney conta e reconta ao longo de sua vida espacial (Houston sempre diz: “Já nos contou essa…”) fica evidente que Sandra Bullock é a protagonista da aventura a se iniciar.
Sem muitos detalhes a informação repassada ao grupo é de que os russos lançaram um míssil contra… adivinhem…
Não, não é o início da 3ª guerra mundial. Os russos atiram contra um de seus próprios satélites, aparentemente obsoleto e inútil. Mas o resultado não saiu como esperado e os estilhaços remanescentes da explosão iniciam uma reação em cadeia, destruindo outros satélites da órbita.
Antes de retornarem à capsula da nave os destroços acaba por eliminar um do grupo e dispersar o veterano, deixando a Sandra Bullock no vácuo (ba-dá-tssss)
O interessante, e é aqui que entra a questão do título, é que o filme tem o realismo científico e ainda assim o suspense faz qualquer um que sofra de vertigens ou labirintite ficar zonzo, e não é somente o jogo de câmeras, os rodopios e os POV’s sob o capacete esférico que enfatiza o drama da personagem, mas sim a boa e velha trilha sonora.
Essa sim, é a salvadora do filme. Compensa toda aquela frase “mas o som não se propaga no espaço” que se propagou em milhares de críticas quando Guerra nas Estrelas (Star Wars, toda a hexalogia) foi lançada.
Curiosamente, antes de ir ao cinema, um canal da tv paga estava exibindo Armagedom. Filme que teve cinco roteiristas, trilha sonora impactante e apelativa, takes ligeiros, piadas-vende-pipoca e a hegemonia da Nasa e núcleos tecnológicos americanos lustrados para receber visitas, ah…, e Steve Tyler cantando de fundo enquanto a sua filhinha elfa fica de namorico com o novo Batman.
Gravidade tem um enredo simples, poucos atores, muitos efeitos visuais caprichados e a atenção dos espectadores torcendo pela personagem que já está rendendo idolatrias tendendo ao reconhecimento da atriz.
Apesar do título bonito que usei vale lembrar que a arte, quando está sobre as leis da física, mesmo no caso desse filme que realizou a proeza do drible, ela ainda está a ser imperfeita como se comprova na cena em que a desesperada Sandra chora e as suas lágrimas pairam no ar naqueles momentos “Pega!” do mundo 3D.
Vale lembrar que recentemente, o canadense Chris Hadfield demonstrou ao mundo como seria chorar no espaço:
Pois é, as gotículas reluzentes são bonitas, mas para pessoas como eu, que vivem no mundo da Lua, tal erro subtrai um pouco do sentimento a ser passado.
Mas antes de os mais sensíveis pensarem em jogar tomates parisienses nesse árabe insensível, me apresso a dizer que a cena que mais gostei foi a que simulou um feto na segurança do útero materno, quando a querida Sandra acaba por despir o macacão espacial (infelizmente só o macacão) e relaxa por alguns segundos ao adentrar a Estação Espacial Internacional . A cena dispensa detalhes técnicos sobre as leis da física e denota a questão do quanto vale lutar pela vida.