Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, anunciou, de forma idiota como sempre, que a série Our Boys, transmitida pela HBO, falada em hebraico e árabe é antissemita.
Assisti ao piloto da série, que me cativou mais do que também a israelense Fauda (disponível na Netflix).
Antes de prosseguir, preciso deixar claro aos que não me conhecem que não nutro simpatia por nenhum tipo de extremismo.
E até mesmo no caso da causa palestina tenho meus ideais mais focados em empatia pelos lados envolvidos e com apelo ao conceito de diplomacia que todo nobre ser humano deveria se esforçar em partilhar antes de atirar a primeira pedra.
Não cresci com uma foto do Arafat na sala, tudo sobre a minha terrinha foi aprendido mais no pós 11 de setembro por vontade própria (meu pai voltou para nosso país natal um ano antes do fatídico dia e antes disso nunca me ensinou ou doutrinou sobre a tal causa) e sobrevivendo ao conteúdo absorvido na adolescência enquanto tentava me encaixar em alguma legitimidade de identidade.
Não sou nenhum Gandhi da vida, mas estou longe de evocar fogo e sangue, e consigo analisar os fatos com um olhar mais frio e “científico” do panorama todo.
Dito isso, espero que leiam, sem comichão de comentar prós ou contras ignóbeis, esse conteúdo sobre a série que irei postando conforme for assistindo aos episódios.
Os eventos da série são sobre o verão de 2014, em junho/julho, em que três garotos judeus são sequestrados na Cisjordânia e posteriormente encontrados mortos.
Tal episódio comoveu Israel, com grandes campanhas pelas buscas, criando levantes do exército sobre os territórios ocupados em semanas de aflição.
Na época, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu declarou que tal sequestro foi obra do grupo terrorista Hamas, algo que a organização negou veemente, e isso já seria ponta de desconforto político, pois todo grupo extremista não perderia tempo de assumir seus atos pelo simples conceito de espalhar o terror.
Assim que os corpos dos três garotos foram encontrados houve grandes levantes populares em diversas regiões, e em uma dessas aglomerações um jovem palestino foi sequestrado e queimado vivo por extremistas judeus.
Na sequência, manifestações no lado palestino eclodiram por todos os territórios e o Hamas, para ganhar protagonismo iniciou ataques de foguetes contra os territórios israelenses, que forçou ao exército ao contra-ataque deflagrando a batalha que foi batizada de Operação Margem Protetora.
O piloto mostra apenas o início de tudo, começando com uma ligação de um dos sequestrados e percorrendo os personagens dos envolvidos na investigação e do outro lado mostrando a outra vítima, o jovem palestino morto após a descoberta das mortes dos três jovens judeus.
O mais interessante no que diz respeito a produção da série é divisão de direção.
Enquanto que Joseph Cedar dirige sobre os eventos do lado israelense, Tawfik Abu Wael, de origem árabe, dirige o desenrolar no lado palestino.
O próprio título nos créditos iniciais aparecem em hebraico e árabe saudando a coprodução e participação conjunta.
Fauda tinha um pouco disso também, embora ficasse mais nos atores árabes a participação, sem abertura para produção.
Our Boys tem tudo para ser a série que eu queria ver sobre o conflito que ocorreu em 2014.
Critica os lados políticos sem se agarrar a outro lado político, focando, sem ser piegas, em um alicerce mais puro: as jovens vítimas que toda guerra santa maldita abocanha.
Ma’a salama!
Lembro, até hoje, chocado, de assistir à uma chamada da Globo News, sobrealgum programa sobre conflitos no Oriente Médio (desculpe-me, realmente não me lembro dos detalhes)… Há uma entrevista com um menininho de, sei lá… 6… 7 anos… Ele perdeu uma perna com uma bomba que explodiu no seu quintal… E o jornalista pergunta “o que você espera para seu futuro?”. Ele mal pensa e, sem hesitar, diz “Eu espero crescer, para poder lutar e matar meus inimigos”…
Eu me horrorizo de pensar nas inúmeras infâncias roubadas. Numa guerra que os atuais gladiadores nem sequer sabem, ao certo, porque seguem na trincheira… É algo imemorial… E você mata seu vizinho, porque o pai dele matou seu pai… E o filho dele te matará… E… E eu não vejo qualquer outra saída. Ceder é ser frágil, é algo enraizado culturalmente. Gentileza = Fraqueza. Vemos isso no Ocidente, de outras formas. É assim que será lido por lá, também. Ninguém vai ceder, portanto.
Pelo acompanhamento que realizo, por conta de ter nascido numa das cidades mais disputadas da história, vi inúmeros casos de crianças que se perdem nesse processo.
Por um esforço de se manter imparcial, me sensibilizo também com o lado “inimigo”, penso em diversas crianças israelenses crescendo traumatizadas com as sirenes disparando e as horas de aflição em bunkers da vizinhança quando os conflitos pipocam.
Realmente é difícil ceder por conta de aspectos pessoais.
Mas como um otimista incorrigível penso que a situação tende a melhorar gradualmente com lideranças menos extremistas, o que ainda está longe de acontecer, mas torço pelo menos pior, que essas eleições em Israel melhorem o processo na região.