A corrida espacial entre EUA e a antiga URSS entre os anos 1957 e 1975 foi uma disputa que criou um levante de empregos e prestadores de serviços para apoiar as agências espaciais. Os russos estavam na frente com o Sputnik, Laika e Yuri Gagarin, mas os americanos não deixaram o sonho morrer, com o aval de Kennedy passaram a mirar a Lua.
Mas Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures) está anos-luz de ser apenas um filme que endossa a supremacia e idolatria americana focando em seus avanços científicos. Tem sim a Nasa de 1961, e um monte de engenheiros cdf’s empenhados em como colocar um ser humano num míssil gigante e enviá-lo para além das nuvens. Porém, é a história de três afro-americanas que torna tudo num drama clássico sobre uma superação não entre nações, mas de preconceitos que infelizmente ecoam até os dias atuais.
Acompanhamos as amigas Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Mary Jackson (Janelle Monáe) e Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) que trabalham no mesmo setor, mas destacadas para funções diferentes, com o foco centrado mais no trabalho de Katherine que como ótima calculadora com sólidos conhecimentos em geometria analítica vai auxiliar no Grupo de Tarefas Espaciais onde tem como chefe Harrison (Kevin Costner) que é durão, mas aos poucos mostra certo despontamento de justiça.
Todos os elementos do preconceito enraizado no estado da Virgínia que tinha como lei a segregação racial são expostos sem medo de chocar e na medida certa para não ser exclusivamente um condimento muito apimentado.
Sempre que sofria com o preconceito sentimos aquela tristeza nos olhos das personagens, que duram poucos segundos, porque as mesmas não se abalam e partem para cima no sentido de enfrentar as barreiras não com violência, mas com a determinação de que podem conquistar os mesmos direitos, pois são tão capazes quanto ou melhores naquilo em que atuam.
Momentos de mérito são vários, como a cena em que Katherine justifica uma pausa de quarenta minutos fora do escritório de Harrison porque o banheiro para pessoas de cor ficava a 1,4 km de distância e o diretor vai até o local com um pé-de-cabra arrebentar a placa Colored Ladies Room e diz “Aqui na Nasa urinamos na mesma cor”
As outras duas protagonistas não ficam para trás, há julgamento em que Mary precisa conquistar o direito de cursar engenharia, algo impensável para uma mulher e negra na época.
Dorothy que é a primeira mulher negra a entrar na Nasa também se destaca por sentir que o trabalho das calculadoras será extinto com o avanço tecnológico dos computadores, e ao ver gigantes máquinas da IBM entrando no prédio vai a uma biblioteca procurar um livro sobre a linguagem Fortran porque sabia que alguém precisaria programar as máquinas para realizarem os cálculos.
Curiosidade é que a trilha sonora é de Pharrel Williams e deixa alguns momentos menos amargos num drama que merece atenção não somente no prisma artístico, mas também numa comparação com os dias atuais, em que o preconceito contra negros é forte, mesmo nos EUA ou até mesmo aqui no Brasil.
Há quem diga que separações e conflitos trazem progresso, mas de que adianta quebrarmos as barreiras do universo e termos separações entre os próximos aqui na Terra?
Ma’a salama