O Melhor de 2021

Geralmente, tento dar chance para algo lançado no ano, com preferência para autores nacionais, sejam da vanguarda ou novos.
Mas confesso que esse ano foquei em uma fila de títulos mais antigos.
Descobri alguns nomes nacionais bem legais, como Samir Machado de Machado com o belíssimo “Homens Elegantes”, romance histórico de aventura no século XVIII recheado de referências da cultura pop com uma trama de espionagem de dar orgulho a Ian Fleming. Ainda mais que o desprezo pelo vilão já é garantido por ter um nome conhecido por todo cidadão brasileiro.
Adorei também “Cidades Afundam em dias Normais” da Aline Valek.
Desbravei a leitura de Zero K e agora sou iniciado em Don Delilo, um dos Big Four da literatura americana segundo disse uma vez Harold Bloom.

Mas o preferido do ano foi Ubik, de Philp K. Dick, o mestre da ficção científica.
Em Ubik se faz presente a paranoia comum nos livros de Dick, principalmente quando a trama dá corda, após a introdução do lugar comum do futuro em que a humanidade está presente no sistema solar, bem como há uma variedade de precogs, telepatas e humanos com capacidades especiais. Em contrapartida há empresas que trabalham com segurança contra esses especialistas.
Adiantar ou resumir qualquer outro detalhe estragaria todo o prazer que a obra pode proporcionar. De longe a minha predileta do autor falecido antes mesmo que Blade Runner fosse estreado.

"Eu estou vivo e vocês estão mortos"
“Eu estou vivo e vocês estão mortos”

Ah, como aqui a autopropaganda é permitida, acho bom ressaltar que lancei mais uma obra de Ficção Científica e Fantasia: Na Era em que os Gárgula Andavam
Está com um preço bem camarada e agradeço os feedbacks se gostar. ;)


Musicalmente considerei um ano fraco. Quase não acompanhei grandes lançamentos, e os que me chegaram não foram lá grande coisa.
O que cativou foi a banda Margaritas Podridas, do México, com protagonismo feminino e com grande influência no grunge e psicodélico.

Cobain curtiria
Cobain curtiria



Li poucos quadrinhos.
Mas o melhor é o argentino “Guarani – A terra sem mal”, com roteiro de Diego Agrimbau e arte por Gabriel Ippóliti. A HQ conta sobre a guerra do Paraguai, em que o Brasil participou e foi responsável por exterminar a maior parte da população paraguaia. A história acompanha o fotógrafo francês Pierre Duprat, contratado para registrar o violento episódio.

Crianças no front paraguaio
Crianças no front paraguaio

Duas séries documentais que mexeram comigo esse ano, ambas para ficar com nojo, uma para um ícone do cinema, outra para com o racismo estrutural:

Allen Vs Farrow: essa série documental me revelou as denúncias bizarras contra Woody Allen, o grande cineasta e queridinho ianque. Se já entortava o olhar com a histórica dele ter se casado com a filha adotiva fiquei puto ao saber do abuso que fez com a outra filha. Dificilmente assistirei outro filme dele novamente, e olha que dá dor ao lembrar que adoro Noivo Neurótico Noiva Nervosa (Annie Hall).

Colin em Preto e Branco (Colin in Black & White): Colin Kaepernick (Jaden Michael), ex-jogador de futebol americano que atuou no San Francisco 49ers narra a sua história, desde a adolescência, indicando e apontando os detalhes do racismo estrutural, englobando até mesmo a família, pois era adotado por uma família branca ingênua quanto a questão racial. Com as dramatizações, é uma ótima indicação para quem quer entender as perspectivas do atleta que ganhou notoriedade quanto a causa ficando de joelhos durante o canto do hino na NFL.

Colin em Preto e Branco
Colin em Preto e Branco

Alguns filmes tão esperados não decepcionaram.
Um exemplo é Duna (Dune), o filme de Denis Villeneuve com estonteante trilha de Hans Zimmer não cambaleia em nenhum momento. Achei ótimo terem dividido o primeiro livro em duas partes. O ruim é ter que esperar até 2023 a conclusão…

Gostei também da versão Snyder da Liga da Justiça, foi um filme melhor que a versão lançada em 2017. Com melhores arcos e noção de um saga que o diretor tinha pensado, e que infelizmente não verá a luz do dia, a não ser que os fãs façam barulho por isso. Bom, funcionou para o lançamento de seu corte, veremos o que vai dar.
Pelo menos o tio Zack lançou outro filme de zumbis: Exército dos Mortos (Army of the Dead), que é pipoca, mas legalzinho para a proposta.

Grande destaque do ano para o tenso e comovente Meu Pai (Father) com atuação merecida de Oscar de Sir Anthony Hopkins sobre o alzheimer.

Ataque dos Cães (Power of the dog) lançado no último mês foi uma boa surpresa também, não a toa é uma das apostas da Netflix para o Oscar.

Porém, o pódio dos filmes vai para o indiano Tigre Branco (White Tiger).
Nem lançarei a sinopse, esse tipo de filme deve ser visto assim como experimentei, sem ver o trailer.
Pois se espera o típico filme de bollywood vai sentir o baque de uma história que escancara a existência das desigualdades de um país que tem um abismo a ser vencido entre sua monumental população.

Mencões honrosas para: O Culpado ( The Guilty) e A Crônica Francesa (The French Dispatch).

No final do filme não tem dancinha
No final do filme não tem dancinha

De séries tive muita expectativa com Fundação (Foundation), então o meu sentimento quanto a primeira temporada é morna, não somente por ser fã dos livros do mestre Isaac Asimov, mas pela condução da trama que ganhou traços entendíveis pelas mãos do roteirista David Goyer, porém, que tropeça em cativar com a noção do todo.
Y – O último Homem (Y – The Last Man) acabou sendo cancelada na primeira temporada, o que é triste, pois a série tinha um potencial muito forte e necessário a ser explorado.

Cowboy Bebop infelizmente não teve fôlego e foi cancelada na primeira temporada. Uma pena, pois o anime está no meu Top5 de sempre.

A alemã Babylon Berlin foi uma ótima descoberta, com uma produção caprichada para dar o tom de 1929 na capital da Alemanha pós primeira guerra e que caminhava para os ares do nazifacismo posterior. Minha bronca foi com o final da segunda temporada para frente (até a terceira) em que a trama se tornou rocambolesca. Espero que melhore na quarta temporada.

Invincible foi um desenho para agradar os fãs de The Boys que não tiveram uma terceira temporada esse ano.
Them foi outra série boa, embora considere o elemento do horror pouco cativante se posto do lado do racismo que a tal família da vida real deve ter enfrentado.

A conclusão de Narcos México foi bem articulada, com um arco em paralelo que rendeu um complemento interessante quanto a questão de violência doméstica além do mundo do narcotráfico.

O pódio das séries vai para a terceira temporada de Succession.
Por que pouca gente está assistindo isso? É uma série primorosa, de dramédia para sentir repulsa de uma família rica e idiota, não tem como não gostar.

"Fuck off!", na voz de Logan Roy
“Fuck off!”, na voz de Logan Roy

Por fim encerro essa modesta retrospectiva com uma foto que me deixa consciente do privilégio da vida boa que tenho, mediante todos os acontecimentos que o povo brasileiro sentiu nesse ano tenso, quando a pandemia chegou a ser mais mortal que no ano anterior e a economia bagaçada nessa lama de péssimas decisões políticas.
A vaca magra posta dias depois do Touro da B3 é um retrato mais fiel e verdadeiro da realidade de muitas famílias que infelizmente sofrem para garantir o mais básico na mesa de jantar.

Touro de Tolo versão magra
Touro de Tolo versão magra



2021 se vai com grande benção a 2022, ano copa do mundo, eleições, e de esperança de mudança.

Vamos que vamos.
Ma’a Salama!