O Melhor de 2022

Findo 2022.
Quem não sofreu de ansiedade não viveu esse ano direito.
Da parte de minha carreira (quase anônima) literária optei por não publicar esse ano. Tive uma boa experiência nos dois anos anteriores com o KDP e ótimos retornos de leitores Brasil afora, mas decidi administrar o até então por enquanto.
Não será um hiato, é mais uma reavaliação das pouco mais de 250 mil palavras publicadas.
Dito isso, parto abaixo para a retrospectiva do que consumi artisticamente (todo entretenimento que me convém) filtrado pelo seu melhor.


De livros clássicos tive a oportunidade de conhecer Ursula K Le Guin e me encantar com sua prosa em A Mão Esquerda da Escuridão.
Dei uma segunda chance para o Gabo e concluí Cem Anos de Solidão.
Li um Pynchon, foi o Leilão do Lote 49. Lerei outra coisa dele? Não tão cedo.
De amigos contemporâneos pude ler de Fábio Fernandes o Love Will Tear Us Apart com a experiência hipnótica de Ian Curtis. Adquiri e li também o mais recente do Cirilo Lemos, o Estação das Moscas, que acompanha crianças em Nova Iguaçu nos anos 90 brincando nas ruas e redondezas e seu personagem principal, o Jona que depois se torna Jona Abscura ao ter que enfrentar uma criatura maligna que não tem mais o que fazer.
No ano em que as 5 finalistas do prestigiado Prêmio Jabuti foram mulheres, também elenco aqui cinco nomes do que li:
Irka Barrios por seu Júpiter Marte Saturno. Os contos preferidos foram A Letra A, Damião sob a Pirâmide e o Viúvas do Silo que merecia se tornar um curta.
Socorro Alcioli por seu A Cabeça do Santo. Rico em realismo mágico e brasileiríssimo.
Carla Madeira com seu Véspera, sensível e atordoante, das tragédias familiares e afetivas.
Maria Fernanda Ampuero por seu Rinha de Galos. Com violência agregada em cada parágrafo.
Natalia Borges Polesso por seu A Extinção das Abelhas. Distópico sensível e perturbador em uma prosa sofisticada e fácil de ler.


Júpiter Marte Saturno
Júpiter Marte Saturno

Das séries foi um ano de fechamento de algumas que amava como The Last Kingdom e a deleitosa Better Call Saul, que foi uma prequela sensacional e bem costurada até emendar com a queridinha Breaking Bad.
Além de um grande início: Sandman.
Após décadas Neil Gaiman conseguiu transportar o senhor dos sonhos dos quadrinhos para a telinha.
Mo, uma dramédia de um palestino vivendo no Texas e lutando por seu direito de conquistar a cidadania na terra da oportunidade.
A britânica Slow Horses também foi um grande acerto da Apple TV. Com Gary Oldman dito em muitas sinopses como o “007 que não deu certo”.
Foi um ano de quase fins. Pois Peaky Blinders deu a deixa para o tão comentado e possível filme com uma conclusão mais digna.
The Crown que jurava que era a última temporada, fiquei feliz de saber que haverá outra.
E Stranger Things que já deu, né?

Mas as melhores que ocupam o pódio são:
Andor, que mostrou que a Disney às vezes cochila e os produtores conseguem fazer algo muito bom. É a prequela da prequela Rogue One, feita com dedicação ao cânone e com o zelo de contar uma história sobre rebeldia (Sim mimizento de direita, desde 1977 já existia os rebeldes, conviva com isso).
Uma boa surpresa foi a série documental/primeira pessoa/cronista How To With John Wilson. Em que um carinha com uma câmera explora o dia a dia ianque em episódios curtos que mostram absurdos sem fim dentro da pauta em que se desdobra. Olha, se eu tinha dúvida de que Nova York tem doido ela foi sanada com essa série. Por sorte há uma nova temporada saindo do forno agora em dezembro 😊.
Landscapers é uma minissérie com os sensacionais David Thewlis e Olivia Colman interpretando um casal estranho mediante um caso de homicídio.
Mas a mais fodástica é a Ruptura (Severance).
O tema casou muito bem em uma época em que a pandemia ainda faz parte do cotidiano mundial e as corporações passaram a vender muito o mote do benefício entre separar “vida pessoal da profissional”.
Acho injusto lançar a sinopse aqui. Será mais proveitoso ir tão somente pelo meu gosto e selo de aprovação.


"Lá vem o RH falar sobre meritocracia e porque não terá PLR nesse ano"
“Lá vem o RH falar sobre meritocracia e porque não terá PLR nesse ano”

De documentários achei interessante ter sabido que houve um Woodstock em 1999, pelo Desastre Total: Woodstock 99. Que teve bandas de rock da minha época de roqueiro expressivo, vibrando de maneira bem diferente do que foi a clássica e lendária Woodstock de 1969.
E é lógico que a minissérie documental vai mostrar que deu errado esse festival, muito errado.
Mas o que mais ressoou foi o Diários de Andy Warhol (The Andy Warhol Diaries).
Essa minissérie documental narrada pelo próprio Andy através de uma inteligência artificial através de seus escritos de seu diário pessoal deu uma visão mais humanizada da figura icônica, cuja imagem que eu tinha dele era um tanto plástica demais. Toda a transformação da arte pop está lá com seus pares contemporâneos e suas desventuras e tragédias.

Expoentes da Arte: Andy e Basquiat
Expoentes da Arte: Andy e Basquiat

Única ida ao cinema foi para ver Elvis, dirigido por Baz Luhrmann. Um filme para o grande público, que cumpre o papel de mostrar os detalhes da vida do tal rei do rock com foco em sua tragédia pelas mãos de seu empresário picareta e manipulador Tom Parker.
Boas surpresas com Speak No Evil e a estranheza da passividade de alguns povos europeus.
Vengeance com uma história de mistério e construção artística que lembrou o meu livro A Melhor Parte da Mentira (escrito em 2015, e que um dia será publicado, ô se vai).
Nada de Novo no Front (All Quiet in the Western Front) é o melhor filme de guerra do ano.
Argentina 1985 é memorável, indica o erro do passado de não termos feito algo semelhante em terra brasilis.
Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness) é a comédia que navega sobre a temática de conflito de classes.
Titane é um ótimo body horror com uma desgraceira sem limites.
A Mão de Deus (È stata la mano di Dio) é um ótimo italiano, Sorrentino saberá criar seu legado ao nível de Fellini.
Uma das maiores expectativas e que por culpa da espera não chegou a ser um “dez” foi O Homem do Norte. Mas alto lá, é um filme nota oito. Com grande produção e ambientação do diretor de A Bruxa (The Witcher) e O Farol (The Lighthouse).
Outra promessa que me deixou na expectativa foi Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everwhere All at Once).
Mas esse superou a expectativa já alta. Tem ótimas e engraçadas atuações de Michelle Yeoh e Jamie Lee Curtis, em um enredo de ficção científica explorando o conceito de multiverso, que mesmo saturado no entretenimento, foi original e bem desenvolvido.
Mas o primeiro lugar, deve ser para o 13 Vidas (Thirteen Lives), lançado na Amazon Prime, com Viggo Mortensen e Colin Farell nos papeis de dois mergulhadores que ajudaram no resgate de um time de futebol mirim presos em uma caverna na Tailândia.
O enredo é sublime pela simplicidade de demostrar a trama ocorrida em 2018 e que foi amplamente acompanhada mundo afora durante a copa do mundo daquele ano, balanceado com os pontos de tensão reais, enquanto há uma enorme cooperação local e internacional pelo resgate quase impossível.

Menções honrosas: Bardo – Falsa Crônica de algumas verdades (Falsa Crónica de unas Cuantas Verdades), Glass Onion, A Tragédia de MacBeth (The Tragedy of Macbeth), Não, Não Olhe! (Nope), X – A Marca da Morte, Top Gun Maverick, Men, Mulher Rei (The Woman King), A Lenda do Cavaleiro Verde (The Green Night)

Respire fundo antes de assitir
Respire fundo antes de assitir

De gibis (ou HQ se preferir) curti o Intempol – Agora, de Octavio Aragão.
Com histórias diversas com roteiristas e artistas singulares, essa antologia mostra que temos uma ficção científica brasileira pujante. E que deveria ser mais valorizada.
Fica a dica.

Intempol - Agora
Intempol – Agora









Como bom ouvinte de rock, estou sempre mais atento a lançamentos desse gênero, então não pude deixar de ouvir os álbuns lançados das bandas Planet Hemp (Jardineiros), Slipknot (The End, So Far), Ratos de Porão (Necropolítica).
Apesar de ter gostado desses trabalhos, o melhor desse gênero foi da banda alemã Rammstein com seu magnífico Zeit. Angst ficou no repeat por algumas semanas.

Mas a melhor coisa lançada para satisfazer os meus tímpanos foi o belga Stromae com seu Multitude.
Stromae dominava as rádios no início dos anos 2010.
Mas só nesse ano que me cativou com esse álbum e músicas como L’Enfer, Fils de joie e a minha predileta Santé.

L'enfer
L’enfer

Se pudesse resumir 2022 seria como a minha (única) ida a praia nesse ano.
Por sorte as águas estavam numa temperatura excelente.
Por azar as águas estavam muito violentas, transtornando um bom banho de mar, com ondas que golpeavam furiosas, forçando essa pessoa que não sabe nadar para fora.
E foi assim mesmo esse ano, não foi ruim, mas o fim vem com grande alívio.


"Ainda bem que raspei o cabelo, não vai sair a calvície"
“Ainda bem que raspei o cabelo, não vai sair a calvície”

Ma’a salama 2022!

Mo (Série da Netflix)

Eu iria colocar como título Mo – Um palestino no Texas, mas tive o receio de que interpretassem como um subtítulo brasileiro genialmente pensado pelo marketing.
Mo é uma série que estreou em agosto na Netflix em amplitude mundial.
O que mais me chamou a atenção é que a produção é da A24, estúdio responsável por grandes filmes nos últimos anos, principalmente de terror e com liberdade criativa atribuída aos produtores.
A série é estrelada por Mo (Mohammed) Amer como o personagem-título. A série é vagamente baseada na própria vida de Amer como um refugiado palestino que vive em Houston, Texas.)
Os americanos adoram reduções de nomes, Mohammed vira Mo (ou Moe), Alphonse vira Al (lembra do famoso mafioso Al Capone? Pois é), e nunca vi nisso um problema.
Considero a abreviação até charmosa.
Maratonei a série assim que estreou e o meu veredito é positivo, adorei o roteiro amparado na dramédia.
Sabia que existia um comediante chamado Mo Amer, mas nunca assisti nenhum stand-up dele, ou qualquer outra produção.
Como um palestino em uma família que está aguardando a oficialização da cidadania americana, empacada por burocracias mil e envolvida em todo rolo que é ser um imigrante refugiado palestino, o personagem se desdobra para viver e manter as contas em dia no tradicional estado do Texas, que a título de curiosidade, nos últimos anos tem sido figurado em um movimento separatista dos EUA com o nome TEXIT (pegando carona no Brexit) conquistando diversos políticos republicanos no engajamento.
A série não se perde muito em grandes explicações, não é documentário, é de fato uma dramédia focada em um personagem que mal segue o islã e vive em um ambiente culturalmente misto (a namorada de Mo é descendente de mexicana) em um estado tradicional e que possui grande luta contra imigrantes ilegais.
Mo tem nuances de todo o rolo cultural envolvido, muitas das piadas expressas eu vivenciei de alguma foram aqui no Brasil.
É sobre a ignorância histórica e geopolítica sobre a região, como muitas pessoas confundindo Palestina com Paquistão, ou então atribuindo referências judaicas quando tento esclarecer e centralizar sobre onde nasci: “Shalom!”, dizem muitos em boa intenção, mas equivocados porque sou do outro lado da fronteira e apesar da palavra para paz em árabe ser muito parecida (Salam), isso cai na dor de sermos um povo muitas vezes ignorada em seus problemas atuais (liberdade, refugiados, conflitos).
Veja, não clamamos o pódio de coitados número da região, há diversos povos que têm sofrido e muito em tempos recentes, procure pela situação dos curdos ou iemenitas por exemplo.
Porém, a causa palestina é algo que perdura há décadas, nossa Nakba começou no século XX, e não há milênios atrás.
São muitos detalhes a serem apontados, e todos considero importantes, pois são pequenas lutas, até erros de legenda que me incomodaram pelo simbolismo da luta que enfrentamos.
No segundo episódio intitulado “Mãe” há o detalhe descuidado por quem traduziu e legendou a frase original em inglês:
“Not as beautiful as back home but nice”
Ficando como:
“Não tanto quanto as de Israel, mas é”
O personagem é palestino, lar (home) para ele não é Israel, e sim Palestina.
E isso ocorre logo após uma cena em uma fazenda de azeitonas em que dois fazendeiros texanos expressam sua ignorância quanto a cultura.
Acho bom deixar claro que não culpo quem traduziu e legendou a série para português, tampouco rebaixar o seu trabalho, até porque tenho a impressão que esse ofício não é dado a cronogramas extensos, ainda mais quando a estreia da série é realizada na plataforma de forma mundial.
Esse foi um exemplo pequeno e ao mesmo tempo que incomoda que me deparo desde que me conheço como palestino vivendo no ocidente.

No mais, Mo é uma boa série contemporânea para assistir e dar umas risadas.

Mo
Mo

Ma’a salama!

O Melhor de 2021

Geralmente, tento dar chance para algo lançado no ano, com preferência para autores nacionais, sejam da vanguarda ou novos.
Mas confesso que esse ano foquei em uma fila de títulos mais antigos.
Descobri alguns nomes nacionais bem legais, como Samir Machado de Machado com o belíssimo “Homens Elegantes”, romance histórico de aventura no século XVIII recheado de referências da cultura pop com uma trama de espionagem de dar orgulho a Ian Fleming. Ainda mais que o desprezo pelo vilão já é garantido por ter um nome conhecido por todo cidadão brasileiro.
Adorei também “Cidades Afundam em dias Normais” da Aline Valek.
Desbravei a leitura de Zero K e agora sou iniciado em Don Delilo, um dos Big Four da literatura americana segundo disse uma vez Harold Bloom.

Mas o preferido do ano foi Ubik, de Philp K. Dick, o mestre da ficção científica.
Em Ubik se faz presente a paranoia comum nos livros de Dick, principalmente quando a trama dá corda, após a introdução do lugar comum do futuro em que a humanidade está presente no sistema solar, bem como há uma variedade de precogs, telepatas e humanos com capacidades especiais. Em contrapartida há empresas que trabalham com segurança contra esses especialistas.
Adiantar ou resumir qualquer outro detalhe estragaria todo o prazer que a obra pode proporcionar. De longe a minha predileta do autor falecido antes mesmo que Blade Runner fosse estreado.

"Eu estou vivo e vocês estão mortos"
“Eu estou vivo e vocês estão mortos”

Ah, como aqui a autopropaganda é permitida, acho bom ressaltar que lancei mais uma obra de Ficção Científica e Fantasia: Na Era em que os Gárgula Andavam
Está com um preço bem camarada e agradeço os feedbacks se gostar. ;)


Musicalmente considerei um ano fraco. Quase não acompanhei grandes lançamentos, e os que me chegaram não foram lá grande coisa.
O que cativou foi a banda Margaritas Podridas, do México, com protagonismo feminino e com grande influência no grunge e psicodélico.

Cobain curtiria
Cobain curtiria



Li poucos quadrinhos.
Mas o melhor é o argentino “Guarani – A terra sem mal”, com roteiro de Diego Agrimbau e arte por Gabriel Ippóliti. A HQ conta sobre a guerra do Paraguai, em que o Brasil participou e foi responsável por exterminar a maior parte da população paraguaia. A história acompanha o fotógrafo francês Pierre Duprat, contratado para registrar o violento episódio.

Crianças no front paraguaio
Crianças no front paraguaio

Duas séries documentais que mexeram comigo esse ano, ambas para ficar com nojo, uma para um ícone do cinema, outra para com o racismo estrutural:

Allen Vs Farrow: essa série documental me revelou as denúncias bizarras contra Woody Allen, o grande cineasta e queridinho ianque. Se já entortava o olhar com a histórica dele ter se casado com a filha adotiva fiquei puto ao saber do abuso que fez com a outra filha. Dificilmente assistirei outro filme dele novamente, e olha que dá dor ao lembrar que adoro Noivo Neurótico Noiva Nervosa (Annie Hall).

Colin em Preto e Branco (Colin in Black & White): Colin Kaepernick (Jaden Michael), ex-jogador de futebol americano que atuou no San Francisco 49ers narra a sua história, desde a adolescência, indicando e apontando os detalhes do racismo estrutural, englobando até mesmo a família, pois era adotado por uma família branca ingênua quanto a questão racial. Com as dramatizações, é uma ótima indicação para quem quer entender as perspectivas do atleta que ganhou notoriedade quanto a causa ficando de joelhos durante o canto do hino na NFL.

Colin em Preto e Branco
Colin em Preto e Branco

Alguns filmes tão esperados não decepcionaram.
Um exemplo é Duna (Dune), o filme de Denis Villeneuve com estonteante trilha de Hans Zimmer não cambaleia em nenhum momento. Achei ótimo terem dividido o primeiro livro em duas partes. O ruim é ter que esperar até 2023 a conclusão…

Gostei também da versão Snyder da Liga da Justiça, foi um filme melhor que a versão lançada em 2017. Com melhores arcos e noção de um saga que o diretor tinha pensado, e que infelizmente não verá a luz do dia, a não ser que os fãs façam barulho por isso. Bom, funcionou para o lançamento de seu corte, veremos o que vai dar.
Pelo menos o tio Zack lançou outro filme de zumbis: Exército dos Mortos (Army of the Dead), que é pipoca, mas legalzinho para a proposta.

Grande destaque do ano para o tenso e comovente Meu Pai (Father) com atuação merecida de Oscar de Sir Anthony Hopkins sobre o alzheimer.

Ataque dos Cães (Power of the dog) lançado no último mês foi uma boa surpresa também, não a toa é uma das apostas da Netflix para o Oscar.

Porém, o pódio dos filmes vai para o indiano Tigre Branco (White Tiger).
Nem lançarei a sinopse, esse tipo de filme deve ser visto assim como experimentei, sem ver o trailer.
Pois se espera o típico filme de bollywood vai sentir o baque de uma história que escancara a existência das desigualdades de um país que tem um abismo a ser vencido entre sua monumental população.

Mencões honrosas para: O Culpado ( The Guilty) e A Crônica Francesa (The French Dispatch).

No final do filme não tem dancinha
No final do filme não tem dancinha

De séries tive muita expectativa com Fundação (Foundation), então o meu sentimento quanto a primeira temporada é morna, não somente por ser fã dos livros do mestre Isaac Asimov, mas pela condução da trama que ganhou traços entendíveis pelas mãos do roteirista David Goyer, porém, que tropeça em cativar com a noção do todo.
Y – O último Homem (Y – The Last Man) acabou sendo cancelada na primeira temporada, o que é triste, pois a série tinha um potencial muito forte e necessário a ser explorado.

Cowboy Bebop infelizmente não teve fôlego e foi cancelada na primeira temporada. Uma pena, pois o anime está no meu Top5 de sempre.

A alemã Babylon Berlin foi uma ótima descoberta, com uma produção caprichada para dar o tom de 1929 na capital da Alemanha pós primeira guerra e que caminhava para os ares do nazifacismo posterior. Minha bronca foi com o final da segunda temporada para frente (até a terceira) em que a trama se tornou rocambolesca. Espero que melhore na quarta temporada.

Invincible foi um desenho para agradar os fãs de The Boys que não tiveram uma terceira temporada esse ano.
Them foi outra série boa, embora considere o elemento do horror pouco cativante se posto do lado do racismo que a tal família da vida real deve ter enfrentado.

A conclusão de Narcos México foi bem articulada, com um arco em paralelo que rendeu um complemento interessante quanto a questão de violência doméstica além do mundo do narcotráfico.

O pódio das séries vai para a terceira temporada de Succession.
Por que pouca gente está assistindo isso? É uma série primorosa, de dramédia para sentir repulsa de uma família rica e idiota, não tem como não gostar.

"Fuck off!", na voz de Logan Roy
“Fuck off!”, na voz de Logan Roy

Por fim encerro essa modesta retrospectiva com uma foto que me deixa consciente do privilégio da vida boa que tenho, mediante todos os acontecimentos que o povo brasileiro sentiu nesse ano tenso, quando a pandemia chegou a ser mais mortal que no ano anterior e a economia bagaçada nessa lama de péssimas decisões políticas.
A vaca magra posta dias depois do Touro da B3 é um retrato mais fiel e verdadeiro da realidade de muitas famílias que infelizmente sofrem para garantir o mais básico na mesa de jantar.

Touro de Tolo versão magra
Touro de Tolo versão magra



2021 se vai com grande benção a 2022, ano copa do mundo, eleições, e de esperança de mudança.

Vamos que vamos.
Ma’a Salama!

Na Era em que os Gárgulas Andavam

Olá!

Na Era em que os Gárgulas Andavam é meu mais novo livro, publicado de forma independente em ebook pelo KDP da Amazon.
Está com um preço (por tempo limitado) inaugural bem camarada: R$ 5,99 (Cinco reais e noventa e nove centavos).
Para comprar basta clicar neste link: https://www.amazon.com.br/dp/B09HP4WMN2


Sinopse:

Dalileia, uma jovem marinheira, encontra no porão do navio de escravos um livro em branco.
Livros não religiosos não podem ser lidos ou tocados.
A escrava Annapuris indica que há um texto oculto no misterioso livro.
Curiosa, Dalileia aceita a ajuda da escrava que consegue revelar o texto que desafia as regras da maior religião monoteísta contando outra versão da história.
Pela leitura clandestina desbrava um passado fantástico repleto de aventuras e se simpatiza por um gárgula com o dom da cura, mas que até então era considerado uma criatura das trevas.
E como parar quando a primeira linha já a condenou à perdição?
“Esses são relatos de uma era em que os deuses eram insultados, reis caíam e os gárgulas andavam”

Em Na Era em que os Gárgulas Andavam são homenageadas a literatura, a ciência, a liberdade de pensamento, a ficção científica e fantasia.

Espero que goste dessa obra, está repleta de aventuras em um universo especulativo onde a fantasia e a ficção científica batem de frente assim como em minha obra anterior (Ouro é para os Fracos).
Acompanhe a jovem marinheira Dalileia na descoberta de um mundo oculto.
Torça pelo gárgula Rindovel envolvido em tramas políticas que envolvem grandes reinos.
Viaje pelos domínios de ThuninVor, GaenBorn, LintsDam, MamoninGal, BastinVor, BalesqVor, CrontFenas, AstorGian.
Prenda a respiração enquanto vislumbra lutas em arenas clandestinas, torneios contra soldados reais em labirintos mortais, fugas impossíveis, encontros com o Necromonte, sabotadores invisíveis e seres que se dizem próximos da maior divindade do mundo conhecido.

Na Era em que os Gárgulas Andavam
Na Era em que os Gárgulas Andavam

Embarque nas páginas dessa Rocky Saga e tenha uma boa leitura.


Ma’a Salama!

Prêmio Le Blanc 2021

Pessoa querida!

Se leu e curtiu o meu último livro publicado (a saber, Ouro é para os Fracos), peço aquele apoio camarada em votar no mesmo no Prêmio Le Blanc 2021.

O prêmio é organizado pela escola de Comunicação da UFRJ (ECO/UFRJ) e a Universidade Veiga de Almeida (UVA).
O nome do prêmio é uma homenagem ao artista haitiano André Le Blanc.


Para votar é muito simples, basta acessar o link abaixo e informar apenas nome e e-mail e o livro indicado na categoria.

[EXPIRADO EM 23/04/2021]
AGRADEÇO DE CORAÇÃO A TODOS QUE VOTARAM :)


Link: https://forms.gle/mHGCgiWXatRXEX6H6

Segue abaixo exemplo para votação na cédula.

Após inserir e-mail e nome completo basta digitar o nome da obra na categoria “Romance nacional inédito…“, nesse caso: Ouro é para os fracos


Caso não tenha lido nenhuma coletânea pode deixar a categoria “Antologia/Coletânea… ” em branco.

Clique em “Submit” e pronto.
Você estará me ajudando nessa primeira fase do prêmio.

Agradeço o apoio desde já.

Ah, se você não comprou ainda Ouro é para os Fracos ele está disponível na Amazon com desconto.


Ma’a Salama!

Ouro é para os Fracos

Esse texto não é sobre dicas de investimento, onde vou declarar que apesar de especialistas indicarem que o ouro é a onda da vez há um esquema de pirâmide, marketing multinível ou criptomoeda que vão de fato te garantir rios de dinheiro, e para isso bastaria um simples cadastro para uma apostila paga de um curso meu.
Não.
Esse post tem o intuito de ofertar não uma apostila, mas um livro.
Enquanto “A Melhor Parte da Mentira” não sai, resolvi publicar de forma independente um romance de ficção científica e fantasia com ambientação árabe pela plataforma Kindle.
E como gosto muito de você lhe informo em primeira mão que por tempo limitado está com um preço bem camarada: R$ 2,80 (Dois reais e oitenta centavos) —EXPIRADO EM 10/11/2020.
Sim, o ebook estará com esse preço inaugural bacanudo devido a todas as crises que as terras tupiniquins vem sofrendo. Mas será por tempo limitado ( EXPIRADO EM 10/11/2020), e a atualização poderá dobrar ou até mesmo triplicar esse valor.
Importante: esse valor está disponível no site brasileiro (amazon.com.br), em outros domínios aparecerá com o valor mínimo na moeda local.
Sem mais delongas, segue abaixo a sinopse:

Arizz, um ex-pirata, convoca um grupo formado pelo espião ocidental Rogson, a meta-humana Udina, o mascarado Madnun e o alquimista Hamud para realizarem o maior roubo da historia valendo-se do dom de sua parceira Laila, que é o de ver o futuro.
Ao convencer o grupo, Arizz antecipa que o alvo do roubo não é ouro, e sim algo que não é de conhecimento humano e existe de forma clandestina no mundo.

Para comprar no Kindle clique aqui.

Espero que goste.
E ficarei imensamente agradecido se puder indicar para as pessoas que conhece e que apreciem esse tipo de literatura.

Ouro é para os fracos

Ouro é para os fracos

Ma’a Salama

O Melhor de 2019

Tem gente que ainda faz retrospectivas, e olha só, esse ano rende a retro da década, mas, como foi tudo muito rápido, não vou me prolongar num post extenso.
Lembrando a minha regra, só coisas boas, para tentar esquecer as insanidades de lá fora.
Então bora lá:

Esse ano reli muitas coisas, principalmente dois livros que gostei bastante na adolescência do mestre Kurt Vonnegut, as ficções científicas Matadouro 5 e Cama de Gato, dessa vez, em edições novinhas em folha que estão marcando presença em minha prateleira.
Aproveitei para voltar a ler algo do mainstream, A Mulher na Janela, do autor A.J. Finn, um crítico literário que decidiu ser criticado e adaptado para as telonas, vi o trailer hoje de manhã.
Mas o melhor é um nacional, para nossa alegria tupiniquim, com uma história que se desenvolve entre o passado e presente e interlúdios de outras épocas, com grande apelo a amizades, inimizades, suspense, folclore e com uma penca de referências de serpentes.
Eis que Serpentário, do autor Felipe Castilho merece o pódio desse ano.

Ssssssssss

Ssssssssss

De HQs infelizmente acompanhei pouco, queria poder ganhar mais gibis de presente (fica a dica se tu nunca me deu nada).
Mas consegui fazer uma modesta contribuição e eis que o Opticus -Intervenções do autor Tiago P. Zanetic e dos ilustradores Mauricio Leone e Gustavo Lambreta chegou na caixa de correio.
Para não entregar muito, a história se inicia com uma intervenção cirúrgica, em que um médico tenta criar uma de cura definitiva da miopia, mas o processo cria um resultado de super-visão, em que ele passa a enxergar as mínimas falhas das coisas e até microrganismos vivendo nelas.

Para ver melhor...

Para ver melhor…


Nesse ano em que muitas séries resolveram acabar, e não estou falando apenas dos cancelamentos em lote da Netflix, mas de pesos pesados como Game of Thrones, que decepcionou muita gente, e Mr Robot que para meu alívio fechou a história com proeza e coragem por parte da produção.
Derrubar o sistema e se manter são não é para qualquer um, vai deixar saudades Elliot Alderson (e amigos).

/* Tá funcionando assim, não mexer nesse final */

/* Tá funcionando assim, não mexer nesse final */


Mas as melhores séries desse ano foram as minisséries, e as baseadas em fatos reais e/ou históricos.
Acho que em empate são as Chernobyl, Olhos que Condenam (When They See US) e Inacreditável (Unbelievable).
Pequei em não resenhar cada uma em separado, mas considero como obrigatório ver as histórias do desastre radioativo que poderia ter sido muito pior, das condenações absurdas dos cincos do Central Park e da investigação de estupros por duas detetives que honraram não somente o distintivo como também a luta das mulheres no mundo varonil.

"Qual o custo das mentiras?"

“Qual o custo das mentiras?”



Menções honrosas para a primeira temporada da série da terrinha: Our Boys, a segunda de Mind Hunter, a terceira de True Detective e a quinta de Peaky Blinders. A única (será?) de Watchmen, e os curtas da antologia animada Love, Death + Robots e Boneca Russa (Russian Doll).

Nesse ano de polêmicas envolvendo o ótimo Coringa (Joker), o longo porém prato cheio para fãs de Scorcese-Pacino-DeNiro O Irlandês (The Irishman), e a final da saga (seria mesmo?) Star Wars, e de filmes de peso como Era uma Vez em Hollywood (Once Upon a Time in Hollywood) e Vingadores – Ultimato (Avengers End Game) eu devo confessar que o meu predileto foi O Farol (The Lighthouse), em preto e branco, com ótimas atuações de Willem Dafoe e Robert Pattinson, ok, o filme foi um palco aberto para atuações de dois homens isolados se degradarem em meio a uma ilha com elementos de fantasia envolvendo a loucura de ambos, mas foi isso que me fisgou, e esse árabe adora filmes doidos em P&B.
Menções honrosas: MidSommar, O Rei (The King), Vidro (Glass), Vice, Nós (Us), Parasita (Parasite), Na Sombra da Lei (Dragged Across Concrete), Dor e Glória (Dolor y Gloria), Dois Papas (The Two Popes), El Camino.

Trampo leve e normal

Trampo leve e normal

O Rock respira por aparelhos, mas nesse ano o Metal deu espasmos fortes e uma pálpebra ficou entreaberta.
O clássicos do Nu Metal como Korn, Slipkot (Birth of the Cruel ficou no repeat por semanas) lançaram grandes álbuns mais do mesmo, deixando a sua marca quase despercebida dos anos 2010.
Após anos Rammstein lançou o sétimo disco intitulado Rammstein, cuja música e clipe Deutschland ficaram nas paradas por muito tempo. Porém, em termos musicais não tem muita diferença do que já fizeram antes.
Thom Yorke lançou seu terceiro álbum solo, Anima, para arrebatar corações daqueles que são apaixonados por suas músicas quase sem consoantes.
A música Last I Heard (…He Was Circling The Drain) foi outra que ficou no repeat, e que ainda ouço ao menos uma vez na semana.
“I woke up with a feeling I just could not take”
Agora, o grande trabalho musical do ano que merece o primeiro lugar foi o lançamento de Fear Inoculum, da banda Tool.
O hiato de 13 anos compensou, o álbum conquistou também de forma inesperada os tops da Billboard.

Tiozões do Rock (banda Tool)

Tiozões do Rock (banda Tool)


Fecho essa humilde retrospectiva com essa foto de um indivíduo caminhando em sua solitude nas dunas de Socrota, no Iêmen.

Uma leve introspecção

Uma leve introspecção


Nos vemos nos anos 2020!
Ma’a salama!

O Melhor de 2018

Embora o ano de 2018 ter sido marcado por embates ideológicos e com a tristeza de não termos sido hexacampeão no campo, só vi vantagem nesses rápidos 12 meses que se passaram.
E o motivo para tal saldo positivo foi o fato de meu próximo romance, A Melhor Parte da Mentira, ter sido escolhido para publicação pela editora Nocaute.
Nem precisava dizer mais nada, acabar minha retro na modéstia de ter sido selecionado em mais de cem originais enviados para submissão e ter a noção de que minha carreira de escritor tem lá seu espaço nesse mundo canibalesco.
Mas como é tradição (firmada por mim mesmo) vou lançar aqui o que melhor vivenciei em 2018.
Lembrando que esse site é reservado para detalhes vinculados à arte, então não esperem ver detalhes pessoais como mudança de emprego e amores mil.
O livro que mais me cativou foi um nacional: O Filho Mais Velho de Deus e/ou o Livro IV, do autor Lourenço Mutarelli, que deu uma entrevista para a Folha que me perturbou, pois mostra que mesmo o cara que deu certo como escritor, não consegue estufar o peito e dizer que consegue viver apenas de literatura, justo no fim do ano, em que as maiores redes de livrarias declararam monstruosos problemas financeiros.
Porém, a obra de Mutarelli é muito interessante. Faz parte do projeto Amores Expressos da Companhia das Letras, em que há alguns anos vem despachando escritores para uma cidade ao redor do mundo com as despesas pagas para vivenciar algo e escrever uma obra que seja ambientada em tal cidade e que obrigatoriamente deva ter uma história de amor que se desenrole lá.
Em o Filho Mais Velho acompanhamos a história de Albert Artur Jones, nome esse criado para proteger a identidade verdadeira da pessoa que entrou numa espécie de proteção à testemunha de um perigo que ele mesmo desconhece de fato, pois não foi testemunha primária de algo, mas que tem a ver com reptilianos mencionados no bilhete suicida de um amigo. E o vemos desembarcar em Nova York. A escrita de Mutarelli é muito engraçada e de fácil degustação. Enquanto o narrador faz um paralelo com os nomes dos personagens e seus homônimos assassinos seriais ao longo da história há também toda a paranoia envolvendo um cidadão mediano que se vê diante da grande oportunidade que é a de reavaliar e mudar sua vida.
Embora eu tenha adorado a prosa, pode ser que muita gente não goste, pois como disse o próprio Mutarelli em entrevista recente: “Faço uma literatura agradável mas na qual você precisa tapar o nariz para encarar”.

Musicalmente foi um ano repleto de enfrentamentos, desde a “This is America” de Childish Gambino (o Donald Glover), como “Boca de Lobo”, do nosso Criolo, cujo clipe bem produzido toca na ferida da situação sócio-política do país.
Teve também o lançamento do albúm No Tourists, da banda do coração The Prodigy.
Mas o lançamento mais marcante foi o do Artic Monkeys, o trabalho Tranquility Base Hotel + Casino, que é bem diferente do AM de 2013 (que tem as minhas preferidas R U Mine? e Arabella).
É um trabalho mais maduro, odeio dizer isso de uma banda, ainda mais dessa banda, por ser de rock, por ser mais do lado indie, mas é a real no caso deles. E ficou um trabalho sensacional.


Conforme os anos vão passando cada vez mais se torna difícil acompanhar séries. Seja pela correria do dia a dia, seja pela variedade estupenda com que elas são descarregadas para nós.
E embora tenha tido picos como o fim de House of Cards, a bem acertada segunda temporada de Westworld e a estreia da surpreendente The Haunting Hill House , o que pegou de jeito foram as mini-séries.
Talvez, o bom trabalho do primeiro ao último episódio e a sensação de que não vão estragar no ano seguinte ajudaram no meu julgamento.
Eis as três que ocuparam o pódio:
-Maniac

Maniac: Bora lá ser aceitável pela sociedade
Maniac: Bora lá ser aceitável pela sociedade

-Patrick Melrose, série britânica dramática com Benedict Cumberbatch
-Objetos Cortantes (Sharp Objects)
Confesso que Objetos Cortantes conseguiu se mostrar como a melhor, pois a Amy Adams está brilhante na atuação e seu nome também figura como produtora.

Que maquete mais linda.. EPA PERA!
Que maquete mais linda.. EPA PERA!


Menção honrosa para séries que descobri: Peaky Blinders (4 temps) e The Handmaid’s Tale (2 temps) que tem a Elisabeth Moss que eu já adorava de Mad Men.

O melhor documentário foi sem dúvida a produção Serei Amado Quando Morrer (They’ll love me when I’m dead) que fala sobre a conturbada produção de Orson Welles no filme The Other Side of the Wind, dissecando diversos problemas enfrentados por um artista.

Não consegui comprar muitos quadrinhos, mas ao menos matei a vontade ler Império, do Mark Waid, em que a história se desenrola após o vilão Golgoth ter dominado o mundo e instaurado o Império, e o fim não acaba após essa vitória, pois após a conquista total, vem a luta de manter tudo que conquistou.

Dos nacionais tem o Silas, uma aventura Steampunk num universo especulativo bem interessante com arte e roteiro do Rapha Pinheiro.
Não tenho o que comentar sobre o herói nacional O Doutrinador, não li nada. Não critico o que não consumo.

Vamos aos filmes.
Quase ignorei Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here) com Joaquim Phoenix e Ekaterina Samsonov.
Por sorte dei chance e me surpreendi com o ótimo trabalho da diretora Lynne Ramsay, que mostra cada vez mais que será um grande nome nas telonas.
Sem entrar em muitos detalhes, basta imaginar o doido do Joaquim Phoenix (que será o novo Coringa, vale ressaltar) num papel de um veterano perturbado que ajuda a polícia a encontrar mulheres presas em cativeiros como escravas sexuais.


E outra pérola que quase passou desapercebida foi A Morte de Stalin (The Death of Stalin).
Em que com um bem pontuado humor negro mostra a morte do Stalin e o momento de disputa de seus prováveis sucessores.
E não se deixe enganar pelo trailer, não é uma comédia europeia para quarentões. Há uma porrada de momentos de tensão com guinadas para momentos de refúgio cômico.

Skavurska!
Skavurska!

Menções honrosas:
Pantera Negra (Black Panther), Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing Missouri), O Artista do Desastre (The Disaster Artist), Unsane e Aniquilação (Annihilation) que tal a minha eterna crush e conterrânea Natalie Portman.

Fecho com uma das melhores fotos, premiada no National Geographic Photo Contest, em que Alison Langevad capturou dois rinocerontes-brancos que saíram para beber água no meio da noite na Reserva Zimanga Game na África do Sul.

A apreciação é o que resta, já que nesse ano morreu o último rinoceronte branco do norte. Enquanto existem os do sul, o reflexo me fez lembrar daquilo que sempre venho ditando nas retrospectivas mesmo mencionando apenas coisas boas: esperança.
E que venha 2019!

Ma’a salama!




Serei Amado Quando Morrer (They’ll Love Me When I’m Dead)

Comecei a assistir o filme O Outro Lado do Vento (The Other Side of the Wind) lançado na Netflix como um tributo ou espécie de resgate das gravações do filme inacabado de Orson Welles.
Quase meia hora de filme e ainda estava perdido, não conseguia entender a premissa e trama do enredo. Desisti porque a internet é limitada e cara demais para gastar com algo que não tem sentido.
Até que me explicaram que para entender melhor O Outro Lado do Vento o apropriado seria assistir ao documentário Serei Amado Quando Morrer (They’ll Love Me When I’m Dead), onde é detalhado os últimos quinze anos do diretor que teve a carreira prejudicada por ter tido um magnífico início: Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941).
A fase-título do documentário teria sido dito por ele, quando passou a ser rejeitado por Hollywood, e em muitos filmes o outrora gênio (ele dirigiu e produziu Cidadão Kane com 26 anos) teve que improvisar os términos de filmes em países europeus.
O Outro Lado do Vento seria uma espécie de tentativa de reconquistar Hollywood,tão áspera nos anos seguintes com o cineasta, tanto que outra fala teria sido dita por ele: “Los Angeles é o único lugar em que todas as ruas levam ao aeroporto.Hollywood quer sempre que você vá embora”.
E conforme é dissecado todos os pormenores da produção do que seria conhecido como um dos maiores filmes jamais finalizados, são exibidos problemas de todo tipo, desde divergências com atuação, até o fator financeiro em que apelou por financiamento vindo do bolso do Xá do Irã,  verba minguada quando houve a revolução islâmica por lá em 1979.
E diante de todos esses impasse vemos que a frase-título não é um choro clamando por mais quinze minutos de fama. Um dos entrevistados comenta que a atribuição é injusta, pois o próprio Orson Welles teria desmentido.
O documentário elucida bem a história por trás de O Outro Lado do Vento e até mesmo sobre os últimos anos de vida do cineasta, mas além de todo aspecto biográfico a frase-título deixa à flor da pele o que todo e qualquer artista, seja no início, seja na retomada de certo sucesso espontâneo, acaba por carregar sobre os ombros.
O reconhecimento em vida é a imortalização alcançada e almejada por todos.
Hoje, qualquer um pode ser lançar artisticamente mundo afora, seja como músico, pintor, ator e até mesmo como contador de histórias, que é o meu caso.
Porém, os problemas ainda são os mesmos de décadas atrás, a concorrência é gigante e os recursos vão se estreitando conforme alguma conquista é alcançada.
Outro dia vi o trailer do filme At Eternity’s Gate, cuja história é sobre o pintor Van Gogh, sendo estrelado por Willem Dafoe no papel de um dos artistas mais subestimados de sua época.
Ao que parece em vida o pintor vendeu apenas um quadro, e sua criação acumula mais de dois mil trabalhos.
Vi muitos artistas que só levam porradas e acabam por abraçar uma espécie de síndrome de Van Gogh: “Ao morrer, vão descobrir minha arte”.
Queria poder jogar palavras sábias e motivadoras de minha autoria aqui, mas não consegui elaborar nada.
Então, para não ficar como um post pessimista lembrei de um discurso de um dos autores mais influentes nos dias de hoje: Neil Gaiman.
O resumo e ponto alto do discurso é quando ele diz que a vida é dura às vezes, que as coisas dão errado, seja no amor, nos negócios, nas amizades e na saúde.
E que “quando as coisas ficam difíceis, é isso o que vocês devem fazer: Façam boa arte
“… e enquanto estiverem nisso, façam a sua arte. Façam as coisas que só vocês podem fazer.”
E ainda pouco antes do fim, continua com um dos pontos mais importantes sobre um conselho recebido por Stephen King no auge do sucesso com Sandman e do romance Belas Maldições (Good Omens):
“Isso é realmente ótimo. Você deveria apreciar isso”, teria dito o rei.
“Essa foi a lição mais difícil pra mim, eu acho: relaxar e curtir a caminhada, porque a jornada o leva a alguns lugares memoráveis e inesperados”
Ao ponto que eu aproveitei cada dica apresentada no discurso de Gaiman, essa parte sobre curtir a jornada é uma das mais importantes para os artistas.
Buscar reconhecimento é o natural de todo artista, mas se você não se satisfaz com sua criação, se a tarde perdida criando uma música na solidão de seu estúdio improvisado, do conto que provavelmente ninguém vai ler, do quadro com traços que parecem desafiar o olhar do espectador, se o momento de criação não seja um dos fatores que define sua felicidade, bom, então você precisa revisar seus conceitos.
Essa foto ilustrando o post é uma resposta para quem disse que quase não há fotos minha aqui no site.
E como selfie hoje é um dos maiores símbolos de amor próprio, peguei a que menos gostei, e a que melhor veio a calhar com a frase-título.

Serei Amado Quando Morrer
Serei Amado Quando Morrer

Mas não se enganem. Embora eu não seja um escritor conhecido pelos quatros cantos das terras tupiniquins, sigo na luta curtindo cada letra jorrada nas páginas em branco.
E espero que todo(a) artista assim se mantenha na luta.

Ma’a salama!

Trecho

Um formigamento nos pés indica que meu corpo não aguenta mais ficar deitado.
O engraçado é que até agora fico medindo esforços para pensar que tipo de veneno tomei.
Dependendo de qual fosse, queimaria minha garganta ao ingerir.
Não me lembro de ter queimado a garganta.
Se outro mais ameno, não poderia ter provocado o vômito de jeito algum.
Existe veneno que é tão mortal que bastaria uma gota para matar cerca de dez homens.
Sei também que há um tipo de veneno que estimula os pulmões a um tipo de relaxamento semelhante ao que o óxido nitroso provoca, e o resultado é a absorção do que você comeu direto pelo órgão respiratório.
O veneno de uma cascavel é fatal. E se não me engano, o veneno de uma viúva-negra é quinze vezes mais forte do que o de uma cascavel.
Vários nomes de substâncias tóxicas percorrem minha mente. Arsênico, Cianureto, Ricina, Estricnina.
Mas nenhuma associação está sendo possível.
Não consigo me movimentar. O que controla muitas funções sensoriais e motoras como movimentos oculares e a coordenação dos reflexos visuais e auditivos é o mesencéfalo. E, a essa altura, o veneno que não faço ideia qual seja o afetou completamente.
Agora, o mais interessante é a pergunta: quem me envenenou?

-Trecho de Simplesmente Complexo (Capítulo Um – Mesencéfalo)

Leia trechos maiores e até capítulos inteiros pelo Google Books.
Disponível nas livrarias: Saraiva, Martins Fontes, Loyola, Cultura e muitas outras.