Ponte dos Espiões
Nessa edição do Oscar Steven Spielberg bateu o recorde de indicações na categoria de melhor filme, a saber: Ponte dos Espiões (Bridge of Spies, 2015), Lincoln (2012), Cavalo de Guerra (2011), Cartas de Iwo Jima (2006, como produtor), Munique (2005), O Resgate do Soldado Ryan (1998), A Lista de Schindler (1993), A Cor Púrpura (1985), E.T. O Extra-Terrestre (1982).
Esse feito ao meu ver é um mero detalhe diante do que ele produziu no mundo da sétima arte. Fica apenas como uma curiosidade ou pequeno item na lista de sua proeza como cineasta prolífico.
Com as mãos dos irmãos Coen no roteiro (Onde os Fracos Não Têm Vez, Queime Depois de Ler) o filme mostra a história baseada em fatos reais do advogado James Donovan interpretado por Tom Hanks, que é introduzido como um homem de família pacato especializado em seguros e que há anos não se envolvia com defesa penal, mas que por ser sócio de um grande escritório de advocacia é sugerido como defensor de um espião russo capturado em solo americano em uma época (1957) em que os EUA e a antiga URSS temiam mutuamente sua capacidade nuclear e intenções diante de avanços pelo globo. Em escolas primárias americanas são exibidos filmes de testes nucleares realizados no Novo México e os efeitos devastadores de uma possível guerra nuclear.
A voz do povo era clara com a situação, qualquer espião capturado deveria ser executado, e o departamento de Defesa deixa claro a James Donovan que o cargo de advogado seria apenas decorativo.
Sensibilizado ao conhecer, mesmo que minimamente o réu, Donovan se empenha em defende-lo de modo real, causando atrito com todos os envolvidos, além de ter sua popularidade, as pessoas no trem passaram a encara-lo com menosprezo diante da traição à bandeira.
O que torna o filme especial não é o homem de família contra os mundos em disputa, e sim um argumento posto contra um agente do serviço secreto em que solicitava que deixasse de ser “certinho, pois não temos um livro de regras”, e Donovan põe em xeque ao dizer que ambos são descendentes de famílias estrangeiras, no caso dele irlandês e do agente alemão, e nivela ambos ao indagar “o que nos torna americanos?”, e não meus caros amigos, não é propaganda imperialista e sim o belo e velho momento racional em que homens podem se sentir iguais aos olhos da justiça, Donovan diz que o os ampara e dá respaldo à atribuição de cidadãos americanos é realmente um livro de regras, conhecida como Constituição.
Não sendo um nocaute, Donovan tem outros méritos no filme, como o argumento de que o espião deve ser mantido vivo para que num futuro pessimista, pudesse ser objeto de troca com um espião americano capturado nas terras da Vodca.
O que ocorre quando um piloto de um avião U-2 é capturado após ser abatido enquanto tirava fotos de uma instalação industrial suspeita dos inimigos. O detalhe é que os pilotos levavam consigo uma moeda de um dólar com um alfinete com cianeto de potássio para arranhar em qualquer parte da pele para findar sua vida caso a queda fosse uma conclusão inevitável. Ao saber que foi capturado vivo, o piloto passa a ser odiado por seus conterrâneos e Donovan sente que seu argumento de manter o espião russo vivo se tornou adequado, não fosse outro americano ser capturado em Berlim na época que foi edificado a famosa Cortina de Ferro.
Além das tensões crescerem e Donovan ter que viajar para a Alemanha separada em segredo pela segurança da família, há dezenas de elementos que vão se desdobrando de modo tímido, mas que rende a uma observação interessante se tu for um amante dos fatos históricos.
Ponte dos Espiões é um filme firme ao estilo Spielberg, como fez outrora com A Lista de Schindler, Munique e Lincoln. Retratando os sacrifícios e anseios de um “Homem Persistente” nos valores universais mesmo que dois mundos estejam prontos para iniciar um duelo que não deixaria ringue para um vencedor.
Ma’a salama!

